sábado, 19 de dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Pessoas de carácter e com ética

Não resisti a tentação de dar a conhecer a crónica de Fernando da Costa, com o título abaixo transcrito a negrito, pelo exemplo público de pessoas com carácter e de uma só face.
A renovação de Boas-Festas para todos os meus camaradas, amigos e visitantes.

Aqui fica o texto

Seres decentes - Crónica de Fernando Dacosta.
2 Tempo Livre/OUT 2008

Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si.
Otexto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber. Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.
O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor. Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros. Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro.
Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados. As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social. Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a. Mas pedi-la, não. Nunca!» O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos. “A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora”.
Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta - acrescentando os outros.
“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”.
O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que
por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos)
ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.
Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar- -nos, a acreditar-nos - condição imprescindível
ao futuro dos que persistem em ser decentes.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Entre amigos


A vida é o momento. Não sei quem foi que escreveu, se escreveu e se escreveu assim… Não vou procurar e prefiro que seja assim. Tenho para mim que a autoria é portuguesa e o seu autor é Guerra Junqueiro. Devia andar na instrução primária quando li pela primeira vez um poema seu e gostei. Os miúdos da minha geração – aqueles com quem partilho momentos da vida – aprendiam a tabuada, os rios de Portugal, as serras e os ramais, as operações de aritmética, a gramática da língua portuguesa com os pronomes, os substantivos, os adjectivos, os verbos e advérbios, as preposições e as orações… Bem, deste modo, estou a ir mais longe – salvo as devidas distâncias - do que o Professor Vitorino Nemésio no programa televisivo Se bem me lembro (anos 1975/76); por sinal, este poeta, escritor e académico, era natural da Terceira, Açores, terra do nosso camarada e amigo Agostinho Maduro.
O almoço de ontem, domingo, foi mais um pretexto para estar entre amigos. Encontramo-nos no Barreiro perto de um Restaurante da casa do Alves. Coube a ele a organização e toda a logística deste encontro. O Alves, o Carlos Ferreira/Almada, Martins, Vitorino, Piriquito, Tony, eu e mais os consortes pela metade ou um pouco mais. É difícil descrever um sentimento, sobretudo quando a emoção se sobrepõe a razão, como foi e é sempre o caso, nos momentos que estou entre amigos. Amigos de verdade, amigos em quem podemos confiar, amigos de uma vida. Quando nos juntamos, conversamos sem tema prévio. Deixamos voar o pensamento ao sabor das palavras de uma amizade presente. Não importa as décadas passadas – uma, duas, três, quatro…- se a alma é grande e o coração sente.
Sei que se aproxima o Natal e, na medida do possível, aproveito para desejar a todos os meus amigos, camaradas e visitantes deste Blogo um Natal Feliz.