quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


Reactivação dos Fuzileiros. Início de 1960
… Continuação

Assim, a 22 de Agosto de 1960, o 2º tenente da classe de Marinha, Alberto Manuel Barreto Pascoal Rodrigues e 3 marinheiros, oriundos da classe de monitores, Ludgero dos Santos Silva (Piçarra), Mário Claudino e João Cândido dos Santos Santinhos, foram frequentar o curso de Royal Marine Command, em Inglaterra (Infantry Training Centre Royal Marines) com êxito: Mário Claudino ficou em 1º lugar no esquadrão entre os ingleses e recebeu como prémio uma medalha.

Por proposta nº 93 de 26 de Maio de 1961 do CEMA, do Vice-Almirante Joaquim Sousa Uva para o Ministro da Marinha, o Curso de Fuzileiros passou a ser ministrado pelos quatro elementos que se tinham deslocado a Inglaterra.
A referida proposta citava o diploma que criou a especialização de fuzileiros especiais (Portaria nº 18 314 de 13.01.61), na classe de fuzileiros e permitia a especialização a outras classes; no ponto seguinte (nº2) dava por praticamente concluídos os preparativos para se dar início aos cursos de fuzileiros especiais na Escola de Fuzileiros.
Preparativos esses que tiveram lugar meia dúzia de meses antes do começo do 1º Curso de FZE, ainda no Corpo de Marinheiros do Alfeite. A equipa recém-formada em Inglaterra, em 30 de Setembro de 1960, deu início ao 1º Curso de Fuzileiros Especiais em 5 de Junho de 1961. Durante esse período, o tenente Pascoal Rodrigues ocupou-se com o lançamento das bases “de tudo o que foi feito posteriormente pela Escola”. A aquisição de equipamentos: obtenção de camuflados, a ideia da compra de macacões verdes para uso durante os treinos; a definição das armas que viriam a ser usadas; o manejo da arma na ordem unida, a necessidade de botes de borrachas; a razão do nome “Destacamento e o número de efectivos”; a inovação da integração .de enfermeiros no curso de fuzileiros especiais e o uso das boinas azuis e suas razões... O estudo, manutenção e actualização dos conhecimentos técnicos e tácticas militares ocorridas na Europa e Estados Unidos, durante e depois da II Guerra Mundial. O fenómeno da guerra de guerrilha ou subversiva, assim designadas, e as formas defensivas de prevenção e ofensivas do contra-ataque (emboscadas, golpes – de - mão, anfíbios, operações desembarques…). O outro património, talvez ainda mais importante, foi a “mística dos fuzileiros”, norteada por valores éticos e princípios :
“ A existência de um «espírito de corpo» peculiar aos fuzileiros e a noção de que faziam parte de uma força de elite, com homens de capacidades e habilidades acima do normal, e a necessidade de fomentar a amizade entre camaradas sabendo que a vida de um depende do outro, foram de imediato implantados e essa mentalização muito ajudou a fazer dos Fuzileiros aquilo que demonstraram vir a ser em 14 anos de guerra” (correspondência, Cmdte Pascoal Rodrigues. Brasil).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África





Reactivação dos Fuzileiros. Início de 1960


A necessidade de nova reactivação dos fuzileiros tornou-se evidente face aos acontecimentos de 1960 no Congo Belga e é aqui que o então Comodoro Reboredo e Silva, que anteviu o conflito que se avizinhava em África se movimentou no sentido de adoptar medidas necessárias para a projecção de uma força militar em terra a partir dos navios. A adopção destas medidas causou uma forte resistência em diversos quadrantes, argumentando que a Marinha não estava preparada para uma guerra em terra e o conflito que se aproximava não necessitava de forças anfíbias. Estas só serviriam para reduzir ainda mais os magros recursos orçamentais da Marinha. O contra-argumento não fez vencimento e foram destacados oficiais do Estado-Maior para os centros das operações especiais do exército em Lamego, para Espanha, para Argélia e para o Reino Unido, a fim de examinarem as várias possibilidades do estabelecimento da força proposta.
Os acontecimentos em Angola aceleraram e o pedido do Comando Naval recomendava uma força de desembarque especializada para operar a partir dos navios patrulhas, instruídas em tácticas e procedimentos de infantaria. Em resposta, Reboredo e Silva procurou a aprovação do Chefe de Estado-Maior da Armada, sugerindo que fosse ministrado treino no estrangeiro para a criação de um pequeno quadro de oficiais e sargentos de forma a servirem de instrutores numa escola de treino para a infantaria naval.
Ainda no início de 1959, Reboredo e Silva, tinha optado pelos franceses para treinar um grupo de oficiais e sargentos na Escola de Fuzileiros no Centro Siroco, Cabo Matifou, próximo da Argélia. O período de treinos para oficiais era oito meses, mais dois para a especialização e de cinco a três meses para o pessoal recrutado (John P. Cann, p.112). Os ingleses apresentaram uma proposta de um curso de nove semanas, mais ajustado as necessidades portuguesas, em contraste com os franceses que haviam insistido num curso básico antes do curso de especialização de comandos. A escolha, sob proposta Reboredo e Silva - então Capitão-de-mar-e-guerra – ao CEMAR, recaiu sobre os ingleses não só por ser o curso de menor duração mas aquele que melhor servia os objectivos e interesses de Portugal. O modelo inglês, os “Comandos da Royal Navy” é uma força de elite da Marinha inglesa, criado no decurso da 2ª Guerra – Mundial, com larga experiência em teatros de operação

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


Os Fuzileiros, origem e formação

A necessidade da Marinha portuguesa dispor de uma força de infantaria ligeira é antiga e tem as suas razões históricas. Já em 1585 a Marinha havia introduzido uma formação específica quanto ao uso de artilharia e armas de fogo em relação a elementos da guarnição que navegavam para a Índia, visando uma protecção aos navios e portos; em Abril de 1621, é formado o Terço da Armada da Coroa de Portugal já como unidade organizada e com privilégio nas cerimónias militares, formando sempre à direita de qualquer outra força e sendo a primeira a destroçar. Já nessa época os homens de infantaria se destacavam no contributo que davam para a redução da ameaça da pirataria ao longo das rotas comerciais portuguesas a bordo dos navios e da costa africana através do Oceano Índico até ao extremo Oriente e Japão ou pelo Atlântico nas rotas da América do Sul. Eram estas forças que protegiam as fortalezas e os enclaves comerciais ao longo das costas durante os Descobrimentos portugueses, passando por várias designações como Infantaria da Marinha, Brigada Real da Marinha, Regimento da Armada, Batalhão Naval, Corpo de Marinheiros Militares e Brigada da Guarda Naval. Em 1797, o termo fuzileiro apareceu na Marinha com a formação da Brigada Real de Marinha dividido em três grupos: Companhias de Artilheiros Marinheiros, Companhias de Fuzileiros Marinheiros (operações de desembarque e defesa…) e Companhias de Artífices e Lastradores Marinheiros. O efectivo total da brigada era composto por 5 222 homens.
Foi um contingente de fuzileiros que acompanhou o rei D. João VI e a corte portuguesa para o Brasil em Março de 1808. Em 1822, quando D. Pedro IV se declarou Imperador do Reino do Brasil, com a inevitável separação de Portugal, aquele contingente constituiu a base dos Fuzileiros Navais do Brasil. Para além das vicissitudes históricas e designações deste Corpo especializado da Marinha, em 1890 o Corpo foi dissolvido no reinado de D. Carlos I para voltar a ser reactivado durante um breve período de 1924 a 1926, agora como Brigada da Guarda Naval (para fornecer segurança às bases navais e aos navios). Passado aquele período, cerca de dois anos, a brigada voltou a ser dissolvida.



Continua...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


A Importância da criação do Quadro de Oficiais da Reserva Naval

Outro dos problemas que a Marinha se defrontava desde a década de quarenta do sec. XX, era um programa para a formação de oficiais da reserva para reforçar o Quadro Permanente, sobretudo em determinadas especialidades como a engenharia mecânica, eléctrica e química e depois das especialidades médica. Foram feitos estudos sobre o modelo da Marinha francesa e da Marinha Real Inglesa até que por um diploma de 26 de Novembro de 1957, a Marinha portuguesa passou a abranger na sua reorganização reservas do pessoal. O Exército objectou, com receio de que este tipo de recrutamento se fizesse à sua custa, com prejuízo de um programa semelhante existente nos seus quadros. Provou-se que não tinha razão – dado a grande dimensão dos quadros do Exército em comparação com os da Marinha. A criação do Quadro de Oficiais da Reserva Naval (ORN) veio a revelar-se sensata, útil e de grande alcance nos treze anos de conflito africano.
Os candidatos aceites ao curso da ORN deviam completar duas fases ou ciclos de instrução. A primeira de carácter básico, envolvendo treinos físicos e cursos de instrução à guerra naval (idêntico para todos os cadetes). O segundo ciclo, apoiado no primeiro, era mais sofisticado e direccionado para o desenvolvimento de conhecimentos práticos dos candidatos em cada especialidade naval. Uma vez completados estes dois ciclos de instrução com sucesso, cada cadete era admitido como subtenente com a obrigação de prestar serviço por um período mínimo de um ano, renovável por períodos sucessivos até ao máximo de cinco. O oficial da RN estava obrigado a servir no Ultramar por um período não inferior a um ano e era logo promovido a 2º tenente à data de partida da metrópole. A promoção a 1º tenente acontecia ao fim de cinco anos (com desempenho recomendável no posto anterior) e era o posto máximo que podia atingir (John P. Cann p. 123). Desta forma, como dirá o refrão popular “matava-se dois coelhos de uma só cajadada”: Evitava os perigos inerentes à antiguidade e promoção do corpo de oficiais dos Quadros Permanentes e conseguia aumentar o número de oficiais subalternos com boa preparação. Este reforço dos Quadros de Oficiais da Marinha veio a ser imprescindível para as operações na guerra de contra-subversão em África. Na realização dos três primeiros cursos de instrução na Escola Naval (1958-1959-1960) formaram-se novas categorias de oficiais num total de sete classes:
1. Marinha (M)
2. Engenheiros de Construção Naval (ECN)
3. Médicos Navais
4. Farmacêuticos Navais (FN)
5. Engenheiros Maquinistas Navais (EMQ)
6. Administração Naval (NA)
7. Fuzileiros (FZ)
Um quarto curso, iniciado em Outubro de 1961, formaram-se 44 cadetes, 9 dos quais eram os primeiros fuzileiros da Reserva Naval. Depois em Maio de 1966 foi criada uma nova classe de Técnicos Especialistas (T.E.). Com refere John P. Cann, Foram realizados 25 cursos e formados 1.712 oficiais da reserva naval. Muitos destes oficiais foram seleccionados para comandar unidades navais em todo o Ultramar e lideraram com sucesso unidades de fuzileiros.
A Marinha tinha entrado na guerra com falta de pessoal não obstante os esforços e melhoramentos desenvolvidos no sentido de antecipar tais necessidades. Não era só a falta de pessoal como também de navios que acusavam uma idade avançada.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Plano Naval

O plano naval no seu conjunto foi afectado pelos ajustamentos da política nacional e teve de ser adaptado para a “guerra contra-subversão de África”. Os navios da Marinha de Guerra Portuguesa existentes não tinham sido concebidos para África e não correspondiam às necessidades de combate em rios. A maior parte deste material (Contratorpedeiros, Corvetas, Patrulhas, Lanchas de Fiscalização e de Desembarque…) foram adquiridos à França, Alemanha e Estados Unidos. No fundo, tinham sido navios e embarcações concebidas e construídas para as operações anfíbias da 2ª Guerra Mundial e que foram adaptadas para operar em águas dos interiores e fluviais. Isso aconteceu com os franceses no Viet Minh e mais tarde, em 1965, com os Estados Unidos.
É interessante, a referência no Livro de John P. Cann ( A Marinha em África…), página 70, alusiva ao Vice-Almirante Sachetti, a propósito da “Estratégia Emergente”, passo a citar: “ Logicamente seria de esperar que os vários planos navais fossem um reflexo da política e da estratégia naval portuguesa e decorreriam destas. Tal não era o caso, porque não havia quaisquer documentos formais que os descrevessem. Sem estas linhas mestras, a composição da esquadra proposta tornava-se sujeita a um qualquer número de variáveis. Como Saccheti referiu justamente, a definição de uma estratégia concertada e a sua evolução é muitas vezes o resultado de uma análise subsequente que explique o que aconteceu e porque aconteceu em vez de ser um processo estabelecido para guiar para actividades futuras”.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África



A 2ª Marinha
A 2ª Marinha dá os seus primeiros passos em 1956 (quando começaram a surgir problemas de insurreições no Congo Belga) com a criação dos Comandos Navais em Angola e Moçambique e dos Comandos de Defesa Marinha. Todo o Plano Naval da nossa Marinha de Guerra, desde 1930 era oceânico. Depois da 2ª Guerra Mundial e com a integração de Portugal na aliança Atlântico (NATO em 1955) a Marinha teve de se reorganizar segundo os novos padrões de exigência. Para isso houve necessidade de treinar aceleradamente os seus quadros, com a adaptação do pessoal militar a uma nova realidade de acordo com as políticas no âmbito da aliança.
O novo plano, que teve inicio a partir de Janeiro de 1957, obrigava a revisão da “política da canhoeira” que até então tinha servido África e o Ultramar. Nesta perspectiva, surge a ideia de uma Marinha com uma força de Fuzileiros embarcados em porta-aviões, preparada para actuar em apoio das operações terrestres, com grande mobilidade e flexibilidade tal como os “Royal Marines” ou “U.S. Marines.” Esta ideia contaria com a previsível oposição da Força Aérea Portuguesa e do Exército porquanto os seus custos absorveriam uma parte maior do orçamento da Defesa. Por outro lado, a aviação naval fora fundida na Força Aérea Portuguesa, em 1952, e necessitava de recursos disponíveis para a aviação.
Uma segunda linha de pensamento, mais clássica e menos dispendiosa, apontava para uma força de fuzileiros e navios de porte adequado para operações nas águas interiores, adaptados ao ambiente africano (idem p. 59). O conflito que se previa era uma guerra de guerrilha que não requeria a projecção do poder a partir do mar. A experiência francesa no delta do Mekong, na Indochina, demonstrara a eficácia de uma força pequena, especializada e de relativo baixo custo, apoiada por aviação baseada em terra. Assim, em 1961, de acordo com um plano nacional, encetaram-se negociações com o estaleiro alemão para a aquisição de corvetas. A partir de 1966, a corveta foi apresentada como num conceito modular de sistema de sensores e armas, e o projecto constituiu um dos sucessos mais notáveis de engenharia naval portuguesa.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Comentário-2
Ao conversar com alguns antigos companheiros fuzileiros, que vivenciaram os treze anos de Guerra em África e nas três frentes, não gostaram de algumas das análises reflectidas nos livros de Aniceto Simões e Carlos de Matos Gomes publicadas com o jornal “Correio da Manhã”. Também eu – que até gostei da Obra – fiquei um tanto desapontado e deu-me a impressão que estes autores (ex-militares do exército) não foram lá muito imparciais em relação à Marinha e aos Fuzileiros; ou então é a própria redacção que deixa margem para interpretações várias… Assim, na página 82, livro 2 pode-se ler:
1. “ Os fuzileiros foram criados por decisão exclusiva da Marinha, que não queria ficar de fora da guerra em terra”. “A criação destas unidades resultou de necessidade da Marinha, mas nunca foi enquadrada nas necessidades gerais das Forças Armadas … como se houvesse uma Guerra da Marinha, outra do Exército e outra da Força Aérea.”
2. “Os Destacamentos de Fuzileiros Especiais e a Companhia de Fuzileiros organizavam-se de acordo com a doutrina da Marinha e sem qualquer coordenação com o Exército, que seria responsável pelo dispositivo operacional e pelo emprego das forças”
Este tipo de análises não são, do meu ponto de vista, felizes e não traduzem a verdadeira dimensão do problema. Até parece que a (re)criação dos fuzileiros foi um luxo da Marinha (decisão exclusiva) e não uma necessidade político-militar, nacional e integrada num esforço de guerra… ou que o Presidente do Conselho, Prof. Oliveira Salazar, que até assumiu a pasta da Defesa Nacional, após ter demitido o general Botelho Moniz, então ministro da Defesa Nacional em 1961, não estivesse devidamente informado!
A Marinha não prestou apenas apoio logístico as forças terrestres do exército, nem se limitou a transportar os militares nas rotas fluviais e do litoral, nem a patrulhar e fiscalizar as comunicações marítimas e fluviais, nem a assegurar os meios de comunicações das suas Estações e Rádio Navais que serviam todas as forças armadas – o que já era muito! Projectava também a sua actuação ofensiva em terra, artilharia, protegendo inclusive a progressão no terreno das forças terrestres… Houve mesmo secções das guarnições dos navios em Ambriz e Ambrizete que actuaram conjuntamente com o exército em defesa das populações. Durante o início de 1961 e após os incidentes em Luanda, grande parte da população, estimada em 200.000, fugiu para o Congo onde as forças da UPA tinham os seus santuários de preparação dos guerrilheiros. O Rio Zaire e a Lagoa de Massabi (Cabinda) e mais a Sul o rio Cuanza, eram autênticas auto-estradas de passagem do IN. Quem, senão a Marinha e os Fuzileiros tinham capacidade para impedir tais incursões? Honra seja também prestada à Força aérea nos apoios logísticos, de transporte de feridos e nas acções de reconhecimento, e acções ofensivas de combate aéreo para diminuir ou eliminar a pressão dos insurrectos sobre as forças terrestres.

Continua...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Comentários-1

Já tinha lido parte da Obra de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes sobre a «Guerra Colonial» da Editorial Noticias. No ano que findou, foram publicados semanalmente vários livros (16), dos mesmos autores (edição Cofina), no Correio da Manhã com o título «Os Anos da Guerra Colonial». Acredito que esta forma divulgação permitiu expandir a Obra e atingir um maior número de leitores. Pessoalmente, considero uma boa Obra e um trabalho histórico bem documentado, visando, de uma forma abrangente, dar a conhecer a participação dos três ramos das Forças Armadas nas três frentes de combates em África (Angola, Guiné e Moçambique), durante todo o período em conflito até às suas independências. Igualmente considero, agora particularmente os Fuzileiros, na importante Obra "referência "obrigatória" de Luís Sanches de Baêna «FUZILEIROS – FACTOS E FEITOS NA GUERRA DE ÁFRICA 1961/1974. Por último, a Obra de John P. Cann (membro associado da Academia de Marinha para os assuntos de História Marítima, investigador e membro Auxiliar na Universidade da Virgínia; comandante aposentado e oficial de voo especializado em aviação de reconhecimento marítimo - Em 2005 publicou Contra-Subversão em África.) um livro muito interessante, intitulado «A MARINHA EM ÁFRICA – Angola, Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais 1961-1974» da Prefácio. Esta última Obra fornece uma perspectiva esclarecedora sobre o papel da nossa Marinha em África. Nessa medida, permite ainda analisar um ou outro facto passado descrito por outros autores sobre a mesma matéria e comparar, até comentar, determinados pontos de vista. O primeiro e o mais importante de todos são o reconhecimento deste último autor acerca do esforço dos militares portugueses em África, durante treze anos, com escassos meios, recursos materiais e humanos. A imaginação das forças armadas portuguesas e a sua capacidade inventiva para aguentar uma guerra de guerrilha desgastante…
No que respeita a Marinha cujos recursos eram paupérrimos, fizeram-se autênticos milagres. Diz John P. Cann: “ Quando os problemas começaram em Angola nos primeiros meses de 1961, a Marinha Portuguesa tinha apenas uma modesta representação disponível para ajudar a restabelecer a ordem civil e defender a integridade das suas fronteiras. E depois acrescenta: “(…) a partir de 30 de Junho de 1960, ou seja o dia da independência do Congo. Nesta altura as únicas unidades navais existentes no teatro eram uma fragata (Pacheco Pereira) dois patrulhas (Sal e S. Vicente a operar no Zaire e proximidades) e uma estação Rádio Naval, parcialmente construída”. Mas antes disso, o passo importante foi alcançado em 1959 no Plano de Construção Naval sobre a definição de duas Marinhas distintas e independentes. Uma Marinha Oceânica e europeia, integrada na NATO, e uma Segunda Marinha Africana, Fluvial para operar em África, nos rios … A primeira, para honrar os seus compromissos com a Nato que era constituída por:
6 - fragatas modernas da classe “US Dealey”,
9 - corvetas da classe italiana “Airone”,
3 - bmarinos, classe francesa “Daphné” e
18 - draga-minas;
A Marinha Africana (que partiu do zero) era formada por:
6- fragatas francesas da classe “Commandat Rivière”;
6 - corvetas da clsasse italiana “Airone”
29- patrulhas (ibidem, p. 60)
Jogar com tudo isto, sem meios, só nós portugueses… Em tempo recorde, vieram as Lanchas de Fiscalização, de Desembarque e mais duas ou três, fragatas, corvetas para patrulhamento e defesa das vias de comunicação marítima e fluvial.