terça-feira, 29 de setembro de 2009

A história da avozinha


A história da avozinha é uma história verdadeira apesar ter acontecido há décadas. Nessa época, a grand-mère tinha 89 anos de idade e hoje está viva e de boa memória!
Vem esta história a propósito de um comentário interessante sobre o Moço de Quelfes aquando do meu Encontro com ele no Algarve, descrito recentemente neste blog. Antes porém, queria realçar o papel importante que todas as avós de hoje – jovens de ontem, como nós - tiveram na Guerra do Ultramar. Foram o nosso apoio logístico de retaguarda e a nossa esperança de um sonho no regresso... A comunicação epistolar, através dos celebérrimos aerogramas, afagavam os momentos de solidão resguardados em vigilâncias descontínuas e em rondas nocturnas. Era uma comunicação entre rapazes e raparigas, de idades compatíveis, até onde a imaginação e o pensamento levavam e a cumplicidade o permitia. Em alguns casos, a cumplicidade deu lugar à comunhão de corpos e ao casamento, noutros, terminou com o fim da Comissão.
Porque achei importante o comentário afectuoso da «avozinha» - uma jovem para as nossas idades – aqui fica o texto que ela escreveu:

O Moço de Quelfes…


pois o moço de Quelfes era (não sei se ainda é) uma pessoa com um grande sentido de humor:Já lá vão muitos anos mais de 40,quando um marinheiro pedia uma correspondente dos 8 aos 88 anos , resolvi responder apesar dos meus 89.........bem só digo foi uma sucessão de troca de aerogramas de partir o coco a rir. Ele era o meu netinho e eu a avózinha.... e já não me lembro qual de nós deixou de escrever. Hoje não sei como, dei por mim a navegar neste blog e a regressar aos meus vinte anos lembro-me muito bem era o Manuel Filipe Viegas da Cruz natural de Quelfes. Gostei de saber que tinha sobrevivido á guerra e gostei de recordar os meus bons tempos de estudante.
Um abraço para o meu netinho e tudo de bom


Ao tomar conhecimento desta história, contactei o Quelfes; primeiro através de email, com cópia do texto, e depois por telefone a perguntar-lhe se ainda se lembrava deste episódio importante da vida. Não só se lembrava como ficou abalado. Assim:

Filho da Escola,

Aqui estou um pouquito contigo. Fazendo suite a nossa conversation telefónica, mais uma vez te agradeço pela visita a Quelfes.

Oh merda, deste-me uma punhalada com essa da " Avozinha": certamente sempre me lembrarei desse anuncio na Plateia " 8 aos 88 " mas o que me dói é que: só me lembro perfeitamente da; M.V.B.O. que tinha o cabelo azul. Daria alguns anos do pouco tempo de vida que me resta para a conhecer pessoalmente e me fazer perdoar do tempo que a fiz perder (o tempo não se perde mas transforma-se) de vez em felicidade (a pesar desta não existir) tão efémera é que nos dizemos passei alguns momentos! Bem venhamos aos anos 60. 43 anos se passaram e eu sempre estou pensando na hora em que apanhei o comboio no Barreiro e não em Santa Apolónia!
Em meu nome e em nome de todos antigos camaradas, uma saudação especial a todas as avozinhas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Daqui não se houve nada, Sr. Tenente...


Quando estive agora a passar “férias” no Canadá, em casa do casal Maduro, houve tempo para muita conversa, até viajar pelo passado... O Agostinho, natural da Ilha Terceira – para muitos o Açores ou açoriano – tem sempre muitas histórias para contar e com graça! Parece que o estou a ouvir: Lembras-te, Álvaro? Pois bem, uma dessas histórias, de que já não me lembrava completamente, passou-se na Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro, vésperas do juramento de bandeira da recruta de Março de 1962. Os protagonistas foram o tenente Heitor Patrício e o “nosso filho da escola, o Granel”. Granel era uma expressão muito usada na Marinha para significar desorganização, indisciplina, rebaldaria, etc. O autor da alcunha costumava usá-la por tudo e por nada: isto é um granel, isto está um granel…mas que granel…
Certo dia, durante um ensaio para o juramento de bandeira, com o pessoal formado em parada, é dada a voz de comando pelo tenente Patrício ao centro: COM-PA-NHI-A… quando uma outra, vinda de um dos flancos, de pronúncia acentuadamente nortenha, se faz ouvir: xenô tenente, daqui não se ouve nada! Era a voz do Granel. O tenente Patrício, já um tanto “afinado” e numa linguagem bem “vernácula”responde : Não se ouve nada a “coisa” da tua tia”…