quinta-feira, 8 de abril de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


6. Guiné – 1963
Em Janeiro de 1963 os insurrectos atacam o aquartelamento de Tite usando pela primeira vez o uso de pistolas-metralhadoras e granadas de mão e efectuavam emboscadas na região de Bedanda. Entretanto, no final de Janeiro chegou a Bissu a LDP 103 e em Fevereiro de 1964 a fragata Nuno Tristão que rende o contratorpedeiro Vouga.
O Comandante – Chefe da Guiné não tinha ainda uma percepção da especificidade dos Fuzileiros que estavam a ser empregues em tarefas inadequadas à sua especialidade. Essa situação foi objecto de informação ao Chefe de Estado-Maior da Armada e redireccionada depois para o Secretário-Geral da Defesa Nacional.
Em Março, um grupo de guerrilheiros apoderam-se dos navios Mirandela e Arouca perto de Cafine.
As acções de violência surgem a sul da região. O DFE2 era a única força de Fuzileiros à data, fortemente empenhada em ligação com os meios navais e as forças terrestres, apoiando o desembarque das Companhias do Exército.
Em Maio de 1963 dá-se a colisão de dois aviões na região de Catió tendo um dos pilotos morrido e o outro sobrevivido ao conseguir aterrar de emergência na bolanha, próximo da Tabanca Tombali. Este piloto que sobreviveu era o sargento Lobato que, depois de maus tratos infringidos pelos guerrilheiros acabou preso numa das prisões da Guiné-Conacri durante sete anos. Só em 1970 foi libertado, melhor dito resgatado, pela maior operação da história da Guerra em África, a «Operação Mar Verde».
O agravamento da situação de guerrilha na Guiné acusava a escassez de meios. Muitas das intervenções do DFE2 era reforçada por um pelotão constituído pela força de desembarque da fragata Nuno Tristão e por pelotões da Companhia de Fuzileiros (CF) nº 3 chegados à Guiné sob o comando do 1º Tenente Alexandre de Carvalho Wandschneider.
Formação da CFE3:
Oficiais
1TEN - Alexandre de Carvalho Wandschneider.
1TEN – Fernando Bernardo Pinto
2TEN FZ RN – Manuel Hernâni Barros Gomes de Vallera
STEN FZ RN – António Fernando Salgado Soares
STEN FZ RN – Bernardino António Dias de Oliveira
STEN MN – Fernando Benedito Anders
Sargentos
SAJ FZ – António Nobre Carlos
1SAR FZ– António Serras Lobato
1SAR FZ – Abel Machado Barbosa
1SAR H FZ – Manuel Vitorino
1SAR TF – Manuel Gonçalves Carvalho
2SAR TF – João Luís Gil
2SAR FZ – Valentim Manuel Almeida da Guia
2SAR FZE – Cecílio José Ferreira Aguião
2SAR FZE – Manuel André Pinho
Praças
4- Cabos FZ, 1 Marinheiro FZ, GR FZ 64 e 12GR FZ.

Operação TREVO
A situação em Darsalame, a sul da Guiné era referida pelo Comandante da Defesa Marítima como fortemente minada pelo IN. Esta operação foi desencadeada em Novembro de 1963 com o apoio da fragata Nuno Tristão e com a actuação conjunta dos Destacamentos DFE7 e DFE8. Estes tinham ordens para desembarcar em na península a sul do Cubisseco e ocupar Darsalame. A operação teve a duração de quatro dias e os objectivos foram atingidos com alguns feridos com gravidade.
O DFE7 chegou a Bissau em 10 de Outubro de 1963 a bordo do navio Niassa.
Formação dos seus efectivos:
Oficiais
1TEN – João José de Freitas Ribeiro Pacheco
2TEN – Alexandre Cunha Reis Rodrigues
STEN FZE RN – Emídio Pedro Águeda Serrano
Sargentos
2SAR IE - Manuel Calado Cordeiro
2SAR H FZE José Manuel dos Santos Sequeira
Praças
Cabos -5, Mar – 8, 1GR – 26, 2GR – 38.
O DFE8 chegou a Guiné Bissau em 4 de Novembro de 1963 a bordo do NRP Vouga.
Efectivos:
Oficiais
1 TEN – Guilherme Almor de Alpoim Calvão
2 TEM – José Manuel Malhão Pereira
STEN FZE RN – Abel Fernando Machado de Oliveira
STEN FZE RN – José Luís Couceiro
Sargentos
2SAR FZE – José Lopes Pereira
2SARG FZE – Manuel Alves
2SAR FZE – Manuel da Costa André
2SAR – Júlio Francisco Simão
2SAR H FZE – José Manuel Santos Maria Calado
1SAR – António Augusto Fidalgo
1 SAR – H FZE – José Romão Nisa
Praças
Cabos FZE -1, MAR FZE 13, 1GR FZE – 70.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Falecimento de um camarada.



Manuel Pinto Carvalho, era conhecido entre o pessoal do DFE4 pelo pseudónimo de “Galvão”. Esteve connosco na festa do 1º Encontro do DFE4, em Março de 2005. Foi contactado por mim, e creio que também pelo Almada, para estar presente ao 3º Encontro realizado a de 4 de Abril de 2008. Já nessa altura sentia-se mal, em vias de ser operado, e não pôde vir.

Há semanas atrás ainda telefonei para saber notícias suas mas não obtive resposta. Esta tarde recebo uma chamada da sua nora a comunicar que o sogro falecera e que o funeral é amanhã às 11 horas, na Igreja do Prior Velho.

É mais um camarada e amigo que partiu e deixa saudades para sempre na lembrança de todos nós que tivemos a felicidade de compartilhar com ele um pedaço da vida.


Para toda a família enlutada as minhas sentidas condolências.


Para ti, Manuel Pinto Carvalho, eterno descanso.


Álvaro Dionísio

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

5.Guiné
Teatro das Operações. Zonas militares
As zonas militares compreendiam:
O litoral, da costa a norte para sul: Cuntima, Jumbembem, Porto Gole, Xime, Xitole e Aldeia Formosa e
O interior para leste até às fronteiras com o Senegal e a Guiné – Conacri.
Durante a guerra quer do lado português quer do PAIGC, o território da Guiné dividia-se em três zonas, separando o litoral em Norte e Sul pelo rio Geba. Assim:
· Zona norte – São Domingos (fronteira), Farim, Teixeira Pinto (Canchungo), Oio-Morés e Bissau;
· Zona sul – Fulacunda (Quinara), Cubisseco, Catió-Cantanhez, Quintafine (fronteira);
· Zona leste – Bafatá, Gabu (Nova Lamego), Medina - fronteira norte (Pirada), fronteira leste (Buruntuma).
População e intervenção bélica
Segundo Aniceto Simões/Carlos de Matos Gomes (in Guerra Colonial), as etnias Balantas e os Mandingos foram os que mais apoiaram o PAIGC enquanto os Fulas os maior colaboração prestaram as autoridades portuguesas. Os “Papeis” em menor número, 7,2 % (ilha de Bissau), desempenhavam um papel importante de dirigente do PAIGC.
O papel dos portugueses na Província da Guiné foi fraco dado o seu interesse económico e a insalubridade do clima. A execução da administração colonial era feita pelos cabo-verdianos. Os poucos quadros existentes da administração do território circunscreviam-se às grandes empresas, a maior das quais se identificava com CUF - a Casa Gouveia.
Durante o desenrolar da Guerra na Guiné é usual demarcar-se dois períodos distintos tendo como protagonistas Amilcar Cabral e António Spínola. A fase antes de Spínola de 1963-1968 e com Spínola no período de 1968-1973.
Para Aniceto Simões (op.cit p.), as operações militares na Guiné teve o seu início no ano de 1963 apesar de anteriormente ter ocorrido acções anticoloniais. Na verdade, conforme escreve Sanches de Baena, a situação da Guiné começava a preocupar em finais de 1962, tendo o Comando de Defesa Marítima alertado as Unidade Navais e os Fuzileiros para os vários focos de aliciamento das populações na zona sul. O 1º tenente Vasconcelos Caeiro foi ferido em combate num pé tendo por isso sido evacuado e rendido pelo 1º tenente Mário Augusto Faria de Carvalho.

quarta-feira, 31 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

4.GUINÉ

A Guiné era a mais difícil e mais complicada dos três teatros de operações. Foi também aquela província que maior grau de importância atingiu para a Marinha quer do ponto de vista táctico quer estratégico. Cerca de 80% dos efectivos neste território movimentava-se por mar ou via fluvial. Nos finais da guerra, quando o trânsito por estrada se tornou ainda mais complicado, a percentagem por via aquática elevou-se para 85%. Esta forma de mobilidade e transporte através dos rios e braços do mar era igualmente importante para o PAIGC. Tal como em Angola, a missão das forças navais consistia em dominar as linhas de comunicação por mar, pela costa e pelas vias fluviais e apoiar o exército e as populações com a capacidade dos seus meios de transporte marítimo e projectar fogo para terra.
A Marinha correspondeu a esse objectivo em combinação com as Lanchas de Fiscalização, de Desembarque e os fuzileiros que, desse modo reduziu a acção do PAIGC ao dificultar o acesso de entrada no território
A luta na Guiné
Em 6 de Junho de 1962 chegou à Guiné o DFE2, transportados em dois voos da Força Aérea Portuguesa para o aeroporto de Bissalanca. O pessoal do Destacamento ficou aquartelado nas Instalações Navais de Bissau.
Formação do DFE2:
Oficiais:
1º TEN - Pedro Manuel de Vasconcelos Caeiro (comandante)
1º TEN – Mário Augusto Faria de Carvalho
STEN - Adolfo Esteves
STEN SEF – António Carlos Samões
STEN FZE RN – José Luís Couceiro
Sargentos:
2SAR FZE – Manuel Antunes Pereira
2SAR H FZE – Amélio da Silva Cunha
2SAR FZE – Joaquim Cotovio Aires
2SAR FZE – Inácio Augusto Paulos
2SAR FZE – Ludgero dos Santos Silva (Piçarra).
Praças

3- Cabos FZE
4 - Marinheiros FZE
1GR FZE - 33
2GR - 31
O comandante chefe das Forças Armadas da Guiné era o brigadeiro Loureiro de Sousa e o Governador da Província o capitão-de-fragata Vasco António Martins Rodrigues. Nessa altura a Guiné contava com os seguintes meios navais:
· Um contratorpedeiro Vouga, a partir de Dezembro de 1962;
· Um navio hidrográfico – Pedro Nunes;
· Três lanchas de fiscalização da classe “Bellatrix”
· Duas lanchas de desembarque pequenas;
· As embarcações Formosa, Corubal e Pecixe ao serviço da Marinha

domingo, 28 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

3. GUINÉ
Subversão na Guiné e o surgimento de partidos e movimentos de guerrilha. Siglas, seu significado e cronologia:
P.A.I. – Partido Africano para a Independência da Guiné – Fundado por Amílcar Cabral, anterior a 1957. Este partido antecedeu o P.A.I.G.C. (Partido par a Independência Africana da Guiné e Cabo Verde);
M.A.C. – Movimento Anti-Colonilista (dado como extinto em Tunes, em Janeiro de 1960, por ocasião da II Conferência dos Povos Africanos). Deu por sua vez origem ao F.R.A.I.N. – Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas. Esta organização englobava os movimentos conhecidos por P.A.I.G.C.., M.P.L.A. e a U.P.A. Foi extinto em Abril de 1961 para aparecer com a designação de C.O.N.C.P. (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas). Este movimento resultou de uma associação dos vários movimentos existentes para conseguirem a “Independência Nacional das Colónias Portuguesas”, designação dada após várias alterações anteriores.
M.L.G.C. – Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde. Este partido dividiu-se em dois porque os naturais da Guiné (cerca de 60 mil residentes no Senegal) não desejavam qualquer associação com os cabos-verdianos e desse modo surgiu o M.L.G.
M.L.G. – Movimento de Libertação para a Guiné – organização constituída quase exclusivamente por manjacos. Este movimento tinha por chefe François Mendly, estudante de Direito, de descendência manjaca, nascido no Senegal e que cumpria serviço militar no Exército francês. A organização estav dividida em duas pois tinha uma filial em Coanakry (M.L.G. – Conakry) e uma outra delegação, embora rudimentar, em Bissau (M.L.G. – Bissau), segundo revelação do jornal “ Le Monde Diplomatique” , em Agosto de 1963.
U.P.L.G. - União Popular para a Libertação da Guiné dita Portuguesa. Este movimento enquadrava alguns fulas residentes no Senegal.
R.D.A.L. – Reagrupamento Democrático Africano para a Libertação da Guiné dita Portuguesa. Esta organização integrava os mandigas existentes no Senegal.
U.P.G. – União das Populações da Guiné dita Portuguesa. Esta associação apareceu depois da dissolução do M.L.G.C. e tinha uma secção formada por naturais da Guiné, em Kolda, província senegalesa do Casamansa.
U.G.G. – União Geral dos Trabalhadores Guineenses – de carácter sindicalista com uma secção do P.A.I.G.C..
U.N.G.P. Alguns elementos do M.L.G. – Bissau e do U.P.G. aderiram ao U.N.G.P., mas o “comité” da Organização da Unidade Africana considerou-o como movimento que efectivamente não combatiam a presença portuguesa. Após a decisão da O.U.A., a U.N.G.P. viu decair a sua importância.
Alguns daqueles movimentos não chegaram a lutar (a M.A.C., o F.R.A.I.N. e o C.O.N.C.P.), tendo ficado o P.A.I.G.C. por dispor de maior força na Guiné, fundado em 1956, chefiado por Amílcar Cabral.

terça-feira, 23 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

2 GUINÉ

Os nativos da Guiné.

Os principais povos autóctones da Guiné, seguindo a ordem alfabética, são:
· Baiotes,
· Balantas (propriamente ditos, manes de Naga, bravos, de fora e cunantes),
Banhuns,
· Biafades,
· Bijagós,
· Brames ou macanhas,
· Cassangas,
· Felupes,
· Fulas,
· Mandingas,
· Majacos,
· Nalus
· Papeis.
Segundo Teixeira da Mota (Monografias dos Territórios do Ultramar» (apud, V.M.1971), aponta as seguintes minorias étnicas: bagas, bambarrãs, cobianas, conháguis, jacancas, jalocas, landumãs, pajandicas, quissincas, saracolés, sosos, tandas, timenés, Tomás, torancas e uassoloncas.
De acordo com o censo de 1960 (editado pela Agência-Geral do Ultramar), a população total era de 521 336 habitantes, dos quais 512 229 constituíam a população residente. A densidade média era de 15 habitantes por km2; 30 por cento da população negra constituída por balantas, 20 por cento de população fulas, 14 por cento de manjacos, 12 por cento por mandigas e 7 por cento de papeis. Os restantes 16,5 por cento pelos outros agrupamentos.
Segundo um estudo de Basil Davison « Revolution en Afrique», a população africana da Guiné andava a volta de 800 000 habitantes e dividia-se em cinco grandes grupos, possuindo cada um a sua própria língua, tradições e sentido da sua própria etnia. Deste modo, assinala a seguinte distribuição:
· Balantas – 250 mil;
· Manjacos – 140 mil;
· Fulas – 100 mil;
· Mandingas – 80 mil;
· Papeis – 50 mil;
· Brames – 35 mil;
· Felupes – 15 mil;
· Beafadas, bairotes, cassangas, saracolés, balantas-manés, pajandincas, etc, cerca de 115 – mil.

Esta «encruzilhada de civilizações» parece reflectir o número de organizações que surgem na luta subversiva contra a soberania portuguesa naquele território, embora as suas motivações não se coadunem com essa dispersão, pelo menos inicial. Como escreve John P. Can na sua obra A Marinha em África “Não há nada de simples acerca da Guiné desde o período da descoberta pelos portugueses (Nuno Tristão, 1446) até à condução da campanha de contra-subversão entre Janeiro de 1963 a Abril de 1974”
A história da Guiné é muitas vezes referida como um refúgio para os povos dos Estados vizinhos que ao longo dos séculos foram expulsos das suas terras. São essas migrações que deram origem a uma população que se fixou ao longo da costa de larga reentrância entre os pântanos e os mares. Quando os portugueses lá chegaram encontraram esse mosaico étnico nas zonas costeiras. A sua penetração para o interior era complicada e apenas alguns aventureiros brancos, comerciantes ou mestiços se arriscavam. O território foi chamado Rios da Guiné e do Cabo Verde, sem referência ao seu interior.
O comércio que se fazia ao longo da Costa e Golfo da Guiné era principalmente o da pimenta, marfim, ouro e escravos. Durante séculos, o volume de tais mercadorias deu origem a várias denominações: a pimenta era conhecida como “sementes do paraíso”, a Costa do Marfim, a Costa do Ouro e a Costa dos Escravos. Porém, no decurso do tempo apareceram outros concorrentes como: os espanhóis, dinamarqueses, holandeses, franceses, ingleses e, por fim, os alemães que reduziram os espaços territoriais das possessões portuguesas e, em 1886, a Guiné ficou reduzida aos limites actuais ( Apu John P. Can, op, cit p. 170, Convention de Délemitation, 12 May 1886, Paris).
Em 1663 foi estabelecida a primeira autoridade no território, em Cacheu, sob a forma de capitania - mor. Bissau foi estabelecida em 1692.
A Guiné foi elevada ao estatuto de distrito na dependência de Cabo Verde em 1835 com a nomeação do célebre governador Honório Pereira Barreto em 1837. A Guiné, do ponto de vista económico tinha pouco interesse para além do comércio de escravos até finais do século XIX. Portugal abolira a escravatura em 1869 e em relação a todo o seu império em 1875. Em Cabo Verde o governador Honório Barreto negociava acordos com os chefes locais e também dirigia um negócio de escravatura da família com a sua mãe, a poderosa Rosa do Cacheu – Rosa de Carvalho de Alvarenga -, acusada de prolongar o tráfego de escravos na Guiné. A violência na Guiné é manifesta. Durante quase um século, no período de 1841 a 1936 os portugueses estiveram envolvidos em mais de oitenta campanhas, expedições e operações…
Em 1842 a Guiné é dividida em dois distritos: Cacheu e Bissau, embora subordinados a Cabo Verde.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

1. GUINÉ
A antiga província da Guiné fica situada na costa ocidental africana entre 12graus 20´ e 10 graus 56´, entre o cabo Roxo e o rio Cagete, ocupando uma área de 31 800 quilómetros quadrados dos quais 28 mil estão, permanentemente, emersos. Frente à costa estende-se um cordão litoral e em pleno oceano há um grande número de pequenas ilhas e ilhotas: o arquipélago de Bijagós. Nos séculos XV e XVI, a Guiné estendia-se desde a fronteira Norte no Rio do Ouro (hoje Sahara Ocidental) a fronteira Sul no cabo de Santa Catarina, a norte do Rio Zaire.
A zona continental é uma região baixa, invadida pela água do mar que, através de largos estuários penetra profundamente para o interior. Apesar da pequenez do território, distinguem-se duas zonas bem diferenciadas: a do litoral e a do interior. No litoral ainda se destrinça entre as ilhas e a terra firme. Esta, baixa e monótona, é uma larga planície aluvial, cortada por muitos e largos rios, onde a maré penetra algumas dezenas de quilómetros.
O clima não é uniforme em todo o território. O litoral está sujeito a um autêntico clima de monção, chegando a humidade relativa da atmosfera a atingir quase o ponto de saturação, enquanto no interior surge, principalmente, um clima de savana, onde a humidade, mesmo nos meses de chuva é menor.
A Guiné é uma «encruzilhada de civilizações» (definição do prof. Orlado Ribeiro, Apud revista V.M.19-11-1971), onde, em 1960, numa área de 28 mil quilómetros quadrados viviam 519 200 habitantes, repartidos por uma quinzena de povos, cada qual falando a sua língua, construindo e agrupando as casas e organizando o espaço à sua volta de forma diferente.
As lutas tribais, a sublevação dos régulos e a ocupação restrita terão sido os principais factores que influíram para que a pacificação da Guiné só se verificasse no século XX e tardasse na delimitação das fronteiras. Até 1879, a Guiné dependia, administrativamente, de Cabo Verde, pois só nesse ano foi criada a «província autónoma da Guiné», com a capital em Bolama.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Angola
Companhia de Fuzileiros nº 1 (CF1)

Foto retirada do Livro II de Sanches de Baêna – Fuzileiros/Crónica dos Feitos de Angola

Em 31 de Maio de 1962 chega a Luanda a Companhia de Fuzileiros nº 1 (CF1), comandada pelo 1º tenente Joaquim Alberto Pires Dias, os 2ºs tenentes António Luciano de Sá Homem de Gouveia e Eduardo Augusto de Vilhena Magalhães Crespo e quatro subtenentes FZE da Reserva Naval: José Máximo Simões de Brito e Castro, Humberto Jorge Santana, Manuel Garrido Pais da Silva e José de Almeida e Costa Cardoso Moniz. Um dos oficiais era médico. Na classe de Sargentos:
Acácio Miguel da Conceição (1º Sarg FZ);
Celestino de Freitas Moreira (2Sarg L);
José da Costa (2Sar C);
Júlio Pardal Troeiro (2Sar FZ);
Manuel Marques Gaspar (2 Sar FZ);
Manuel A. de F. Garrido Silva (2 Sar C);
Francisco Beirante Roldão (2 Sarg FZ);
Salvador da Assunção Caldeira (2Sar FZ),
Valentim Carlos de Oliveira (2Sarg H).

Na classe de praças, 9 cabos, 12 marinheiros e 106 Grumetes, se não me enganei a contar a tabela fornecida pelo Livro de Sanches de Baena.
Neste Período, o general Deslandes, Comandante-Chefe expressa a vontade de intensificar a vigilância fronteiriça através da construção de uma via de comunicação: rede terrestre associada as fluviais ao longo dos rios com o objectivo de barrar a penetração dos grupos de gurreilheiros vindos do Congo. Uma das preocupações das autoridades portuguesas quando a guerra de subversão rebentou no Norte de Angola foi evitar o êxodo das populações da região do Uije, principalmente as acções intimidatórias por parte dos insurrectos. Para o efeito, era preciso criar condições a milhares de nativos que se apresentavam as autoridades nacionais, ou seja: instalá-los e dar-lhes condições de vida e de trabalho. Esta preocupação levou o Governador do Distrito de Uije, à época tenente-coronel Rebocho Vaz, a promulgar um diploma legislativo (Maio/62), criando em Angola quatro zonas-pilotos, tendo assim fundado 55 novas povoações na subzona a norte e 78 na sub-zona a sul do distrito de Uije. Cada uma das povoações com avenidas e arruamentos transversais e com divisão de espaços em talhões destinados a habitação do agregado populacional. A povoação era constituída por um centro cívico, uma escola, um posto sanitário, uma capela, cooperativa e loja.
O Comando Naval, então comodoro Mexia Salema, apresentou um plano designado como Dispositivo Detentor da Frente Fluvial do Zaire (DDZ) que apontava para a instação de três postos fixos entre Nóqui e a Pedra do Feitiço, depois acrescido de um outro na ilha de Quissanga. A concretização deste dispositivo compreendia algumas lanchas de 30 toneladas e outras ligeiras.
Em Julho/1962 havia alguns pelotões da CF1 instalados num acampamento improvisado com panos de tenda e o apoio de soldados nativos da fragata Pacheco Pereira, dos navios-patrulha Príncipe, Santiago, Madeira, Sal, São Vicente e São Tomé que empenhadamente levaram a cabo a árdua tarefa da construção dos postos do Puelo, Macala e Tridente.

O 3º Pelotão da CF1 constrói o posto do “Puelo”, o 2º Pelotão o da “Macala” e o 1º Pelotão encarregou-se da construção do “Tridente”.

A este propósito, todos os Destacamentos de Fuzileiros que passaram por estes postos acrescentaram algo mais, melhorando as condições de permanência neles. A testemunhá-lo, dá-nos conta a inscrição e deixada no Posto da Macala pelo DFE4 (1963-65), inspirada de forma poética:

A Companhia nº 1
Este posto começou
o 1º Destacamento
a obra continuou

O 3º com afinco
Para que nada faltasse
Fez com o que o 4º e o 5º
O trabalho não parasse

O 6º vendo isto
A obra não quis parar
Para lembrar aos que vêm
O valo do trabalhar

E tu que vens e não sabes
O trabalho que isto deu
Continua e não pares
E faz versos como eu.
Fernando Caseira (Póvoa)
A outra parte do CF1 permaneceu em Luanda assegurando a protecção à Estação Rádio Naval de Belas. Os pelotões rodavam entre si periodicamente. Alé da construção dos Postos, o pessoal da CF1 fazia patrulhamento no rio e em terra. Usavam os botes de borracha Zodiac e os motores Johnson e Envirude.
Os cais dos postos fluviais construídos no rio Zaire foram colocados os nomes dos seus navios: Cais Madeira, Cais Santiago e por aí fora…
Os postos foram concluídos até ao final de 1962:
· Posto do Puelo – 15 de Agosto;
· Posto da Macala – 30 de Setembro;
· Posto da Quissanga – 6 de Dezembro;
· Posto do Tridente – 22 de Dezembro.
A Pedra do Feitiço – base fluvial de patrulha -, até então guanecida apenas com efectivos do Exército, foi também construída em Dezembro.
Após a construção dos postos, a CF1 regressa a Luanda, sendo substituída no Zaire pelos Destacamentos de Fuzileiros Especiais.

“Ferrolho”, Plano de Operações. Esta foi a designação dada para este Plano que consistia em atribuir uma força de guarnição e intervenção a cada um dos postos: força de base, de assalto e reforço, com uma ou duas secções de DFE e dois botes de borracha (pneumáticos), um grupo de patrulhas, inicialmente formado por duas lanchas de 30 toneladas (idem, Sanches de Baêna, p. 40 ss) .
O DFE 3 chega a Luanda em 29 de Agosto de 1962. É composta por três oficiais mas não trazia Comandante. A rotação entre oficiais é feita em Angola. O subtenente mais antigo, Abrantes Serra, é destacado para o DFE1 por troca com o Imediato deste – 1º tenente Luís Fernando Camós de Oliveira Rego, que passou a exercer o comando do DFE3.

Formação inicial do DFE3:
2SAR FZE – Manuel Lúcio Venâncio;
2 SAR FZE – Mário José Batista Claudino.
Praças: 13 cabos FZE, 34 marinheiros FZE, 24 Grumetes.

sábado, 6 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

A chegada dos Fuzileiros ao Zaire

Vila de Santo António do Zaire e aquartelamento à direita (1963)

Após a chegada de lanchas de trinta toneladas, o Comando Naval de Angola esperava pelo primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais, DFE1.
Porto de Santo António do Zaire e lancha de Fiscalização no Rio Zaire
Pensou-se ainda que os fuzileiros poderiam potencialmente substituir o pessoal do Exército em Ambriz, Ambrizete, Santo António do Zaire e Nóqui, num total de 1452 efectivos. Um pensamento irrealista na medida que um Destacamento comporta 75 homens! Realista era os fuzileiros complementarem as forças do exército numa atitude menos estática e mais ágil de ofensiva nas zonas fluviais.
A ideia inicial era que o Destacamento acabado de chegar da Metrópole se estabelecesse numa base próxima da zona de operações de modo a familiarizar-se com o ambiente operacional. O período de adaptação a África constituía parte importante do processo de aclimatização. Foi o que aconteceu com o DFE1 quando chegou a Luanda em meados de Novembro de 1961, tendo embarcado logo na semana seguinte nas fragatas Diogo Gomes e Pero Escobar para efectuar exercícios a sul, com desembarques em Moçâmedes, Benguela e Novo Redondo, já referido aqui em Post anterior, acrescido dos elogios da população relatados por um jornalista. O DFE1 participa também em operações com o exército, na região de Buela, área demarcada de S. Salvador, Tombôco e o rio M´Pozo. Depois seguiu para norte de Luanda realizando patrulhamentos no rio Zaire, margens do rio Chiloango e do Lago de Massabi em Cabinda.
O DFE1 operava de vez em quando com unidades do exército ou armada em emboscadas e ataques de surpresa coordenados com diversos planos. Isso aconteceu em Ambriz e Ambrizete e à volta das sanzalas de Caluca e Avé Maria, próximo do rio Mebridgede ou M´bridge a sul de S. Salvador, região dos Dembos.
A partir dos inícios de 1962 o DFE1 operava com certa regularidade e quase -permanência com as forças Pára-quedistas em Nova Caipenga, cerca de 150 Km de S. Salvador, no rio Loge. Com as unidades do Exército nas planícies do Congo Yella, a sul e a oeste da Pedra do Feitiço no Zaire. O patrulhamento do rio pelas áreas da Ilha do Bullicoco, Quissanga, Lucala, Quibembe, Chichianga, Ponta Puelo e Lué Pequeno próximo de Nóqui. Estas acções ou parte delas implicava também a coordenação com as Lanchas de Fiscalização que, a partir de Fevereiro de 1962 foram recebidas mais novas lanchas de 30 toneladas: Altair, Rigel e Regulus.
O reforço da vigilância do rio Zaire era fundamental para estabelecer uma forte barreira às infiltrações dos insurrectos a partir da fronteira fluvial do Congo.
Na Vila de Santo António do Zaire, o DFE1, nos inícios de 1961 estava aquartelado numa casa (CUF) de dois andares em que o rés-do-chão era ocupado por armazéns e no 1º andar alojava-se a guarnição dos fuzileiros em beliches triplos com 23 homens em cada divisão.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Angola-II
Angola foi o único território africano onde decorreram acções militares em 1961. No entanto, foram tomadas medidas de precaução em relação à Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Quanto a Goa, Damão e Diu, ainda se encontrava no domínio Português. A sua queda ocorreu com a invasão e ocupação pela União Indiana em 18 de Dezembro. Daí, o maior esforço português direccionava-se para o território de Angola. Os acontecimentos de 4 de Fevereiro de 1960 (Baixa do Cassange. Greve dos agricultores de algodão e repressão) e depois a tentativa de Golpe de Estado pelo General Botelho Moniz, conhecido pela “Abrilada” vem acelerar o reforço militar para Angola com mobilizações das forças armadas em força, sobretudo do Exército. Do conjunto de efectivos do exército existente em 1960 (Angola, Guiné e Moçambique) passou para cerca de 50.000, em finais de 1961.
A primeira fase de intervenção militar das forças portuguesas em Angola era a recuperação de zonas dominadas pela UPA no Norte de Angola em 1961.
A necessidade da presença militar em todo o espaço Angola conduziu a adopção da organização de “quadrícula” até ao final da guerra. Este dispositivo dividia-se em secções de responsabilidade das unidades de manobra e viria a condicionar a forma de actuar das tropas portuguesas porque a importância conferida ao domínio do terreno as colocava num atitude defensiva, com muitos meios dispersos, presas a um sistema logístico pesado e com poucos meios para a realização de operações ofensivas rápidas e eficazes. As medidas de quadrícula, para além da preparação de natureza técnico-táctico que a experiência aconselhava, havia que contar com a missão de apoio psicossocial prestado às populações autóctones como forma de combate ideológico e político contra os guerrilheiros. Esta missão não se coadunava com as forças dos Quadros Permanentes do Exército que não estavam vocacionados para este tipo de missão: acção de guerra e acção social. Tiveram, naturalmente, de se preparem minimamente através de cursos rápidos de formação neste área ministrados à época. Da parte do Governo de Lisboa, tentou resolver a questão com a atribuição de cargos de Governador-geral e de Comandante em chefe numa mesma pessoa com a patente de oficial general. É assim que em Julho de 1961 é nomeado governador-geral e comandante-chefe o General da Força Aérea Venâncio Deslandes. Em Moçambique o Almirante Sarmento Rodrigues e, mais tarde, na Guiné, o brigadeiro António Spínola como novo Governador-Geral e Comandante-Chefe o qual viria a alterar a forma de emprego operacional dos Fuzileiros defendendo e pondo em prática o dispositivo da contrapenetração. Segundo esse dispositivo, os Fuzileiros passaram na prática a ser utilizados nas áreas que estavam destinadas quase como “tropa de quadrícula”. A relação entre os Fuzileiros o e Governador-Geral e Comandante-Chefe, não foram as melhores.
António Spínola, conforme vem publicado na III Edição Correio da Manhã (As Grandes Operações da Guerra Colonial, Angola 1961 a 1964 – Baptismo de fogo), oferecera-se como voluntário para comandar o Batalhão 345 para Angola, à data com 51 anos de idade e o posto de tenente-coronel. A sua situação de militar no Regimento de Lanceiros era acumulada com o cargo na administração da Siderurgia Nacional onde fora colocado pelo ministro da Presidência João Costa Leite em representação do Instituto de Conservas de Peixe que detinha uma quota de dez por cento do capital. Entre António Spínola e o industrial, proprietário, António Champalimaud, havia um desentendimento tal que este não foi ao seu jantar de despedida para África, em 16 de Novembro de 1961.
O Batalhão 345 era composto por 31 oficiais, 70 sargentos e 538 praças. É em São Salvador, junto à fronteira Norte, que uma Companhia sai em patrulha, comandada por Spínola. Quando a maioria já dormia, são atacados e é graças ao soldado António Cáceres que ao conseguir enfiar-lhe o capacete, no clarão da noite, salva a vida ao Comandante Spínola. É que no instante em que este é colocado uma bala atinge-o e resvala no ferro. O soldado foi condecorado com uma medalha de mérito.
Em relação ao Exército e ainda no final do ano de 1961 é produzida legislação a convidar os oficiais milicianos a ingressar no Quadro Permanente.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


Angola-I

Angola era a maior e mais rica Província Ultramarina Portuguesa situada na costa ocidental de África. Fazia fronteira a norte com a República Popular do Congo (antigo Congo Francês) e República Democrática do Congo e a Zâmbia (Ex-Rodésia do Norte) a leste, com o Sudoeste Africano a sul e o oceano Atlântico a oeste. Tem uma superfície de 1 246 700 km2, representado mais de 4% do território africano. As fronteiras terrestres alcançam a extensão de 4837 km e a marítima 1650 km, estendendo-se entre os paraleos de 5º S , foz do rio Luema, e 17º 30´ S na foz do rio Cunene.
Quanto ao relevo e hidrografia Angola é caracterizada por três zonas de relevos: zona das planícies litorais, zonas das montanhas e zonas dos planaltos interiores. Da bacia de Angola fazem parte dois grandes rios: O Zaire e o Zambeze. Os restante rios nascem e têm o seu curso em território Angola sendo os mais importantes os rios Quanza, Cunene, Cubango e Cuango.
O rio Zaire ou Congo é o segundo maior rio de África, logo a seguir ao Nilo, com uma extensão de 4380 km. Nasce na Zâmbia, atravessa o Congo, a República Centro-African, a República Democrática do Congo, Angola, o Burundi, o Ruanda e os Camarões. Há quem afirme que poderia fornecer electricidade para toda a África. O Zambeze nasce no Congo, atravessa Angola no saliente do Cazombo, passa pela Zâmbia e desagua em Moçambique.
O clima varia um tanto em razão da extensão do território. Assim, do norte de Cabinda até Ambriz o clima é acentuadamente tropical húmido; de Luanda a Moçâmedes, região de Malange e na faixa oriental, temperado húmido; nas zonas planálticas central e sul, temperado seco.
A fauna e a flora são diversificadas em Angola e distribui-se segundo as características do solo. Nas zonas das savanas e de estepe habitam os herbívoros (hipopótamo, girafa, elefante-africano, rinoceronte-branco e preto, zebra, búfalo, pacaça, gazelas, palancas, javalis…) e predadores naturais como o leão, o leopardo, a raposa, o chacal, etc.
Nas zonas de florestas densa como em Cabinda, os gorilas e os chimpanzés.
Quanto as aves e outras espécies abundam centenas em Angola: codorniz, perdiz, pato-bravo, galinha – da - índia, rola, flamingo, garça… e os répteis – crocodilos, serpentes, batráquios, grande variedade de peixes, insectívoros, etc.
Sintetizando, as zonas das florestas poderão distribuir-se da seguinte forma:
Floresta densa: Cabinda, Encoge, Dembos, Cazengo, Amboim e nos vales dos rios Cassai e Cuango.;
Florestas claras – “matas de panda”, árvores de copas achatadas com espaços entre si – nas zonas dos rios Cuito, Cubango, Cuando e entre Benguela e Sá da Bandeira.
Capinzais – no litoral do distrito de Cabinda e no Nordeste de Angola
Savanas - grandes extensões de terra, vegetação herbácea de forma contínua raramente interrompida por capões de arbustos e árvores menores. A savana tem um clima particular devido às secas prolongadas, que podem ter uma duração de até dez meses, com elevadas temperaturase humidade do ar desérticas.
“Chanas” – típica da planície do Leste de Angola.
Mangais ou muílas – conjuntos cerrados de ervas e arbustos nos rios Zaire, Cuanza e Chiloango.
Na zona do litoral seca e baixa predominam plantas dos terrenos salgados, plantas gordas ou espinhosas, acácias e embondeiros. Para o sul, edvido à secura, predominam as estepes e a vegetação desértica.
A população da província era em 1961 de 4 832 677 habitantes, dos quais 169 672 eram brancos e 53 099 mestiços ( op cit Sanches de Baêna, p. 14 Liv.II).
A população autóctone pertence à grande família Banto e com excepção para os Bosquímanos e outras minorias, segundo os grupos linguísticos divide-se da seguinte forma:
· Quicongo
· Quimbundo
· Lunda-Quioco
· Umbundo
· Ganguela
· Nhaneca-Humbe
· Ambo
· Hetero
· Xindonga
Do ponto de vista religioso, os brancos, mestiços e nativos mais evoluídos seguiam a religião católica embora os protestantes se encontrassem bem implantados no território angolano. De qualquer forma, a grande maioria da população continuava a ser fetichista e animista não obstante o esforço dos missionários.
As populações autóctones dividia-se, segundo a administração colonial em dois tipos:
· Indígena – indivíduo portador de uma caderneta emitida pela autoridade administrativa que o distinguia do cidadão nacional e
· Assimilado, indígena com direito a adquirir o bilhete de identidade de cidadão português ( uma pequena percentagem).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África



Painel representando Diogo Cão, na foz do Zaire.
Rio Zaire - Angola

Foi o navegador português Diogo Cão o primeiro europeu a chegar ao rio Congo, no reinado de D. João II, tendo realizado duas viagens de descobrimento da costa sudoeste africana entre 1482 e 1486. A primeira destas viagens terá tido início no verão de 1482, passando a expedição por S. Jorge da Mina, dirigindo-se depois ao cabo de Santa Catarina. No decurso desta viagem terá sido descoberto o rio do Padrão (actual rio Congo), onde foi erguido o primeiro padrão de pedra e avançou pelo interior do rio tendo deixado uma inscrição comprovando a sua chegada às cataratas de Ielala, perto de Matadi. Estabeleceu as primeiras ligações com o Rei Congo. Segundo alguns relatos históricos, a frota de Diogo Cão, depois de passar o Cabo Paúl, a sul do enclave de Cabinda “aos navios deparou-se em 23 de Abril, dia de São Jorge, uma corrente de 20 Km de largo, barrenta e rumorejante que invadia o mar com violência de catarata, trazendo consigo, em remoinhos, ilhas de capim, troncos raptados à margem, ramos estilhaçados, toda a triste e aflitiva bagagem das grandes inundações, era a embocadura de um grande rio, “Rio Poderoso” (Rio Zaire ou Congo), como lhe terá chamado alguém da frota, conhecido depois por “Rio do Padrão”.
(…)À medida que caminhavam, experimentavam os efeitos de uma corrente vertiginosa que cortava o mar perpendicularmente à costa : “ e no inverno desta terra, que he do mês de abril atee o fim de setembro, traz este Rio tam grande corrente d’ auguoa doce, que a trinta léguas em mar se sente a força dela (Esmeraldo.)
“Torneando e atravessando a corrente da embocadura do rio, a armada penetra num majestoso estuário de margens baixas e foram dar com a margem esquerda, junto à foz.
Viram uma língua de terra, nesse bocado de terra frisada, que avança pelo mar como braço recurvado de muralha a proteger um ponto e que olha de um dos lados para o Atlântico e do outro para a foz do Zaire, arribou as caravelas de Diogo Cão.
Festivamente, a tripulação desembarca, a que, pelo grande volume de água e impetuosidade de corrente, os marinheiros puseram o nome de Rio Poderoso, conhecido também por rio do Manicongo e mais tarde por Rio do Padrão. “ Á data, os potentados locais eram o Manicongo e N´Gola (a sul) que dependiam ou prestavam vassalagem ao do Congo.
O navegador perguntou o nome da terra, o pescador respondeu: "Kinzadiko" ("não sei"). Ao interrogá-lo sobre o nome do grande rio, Ndom Lwolo respondeu: "Nzadi" ("Rio"). Talvez por dificuldade de pronunciar o nome, o visitante concluiu que o rio se chamava "Zaire". A importância deste nome é a prova da importância dos portugueses naquelas paragens.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África



Foto: livro II – Sanches de Baêna (Fuzileiros/Crónica dos Feitos de Angola)


Primeiros fuzileiros em Angola

O Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 1 (DFE1) partiu para Angola a 10 de Novembro de 1961, tendo desembarcado em Luanda num DC6 da Força Aérea. Era a primeira unidade da nova infantaria da Marinha a ir para o Ultramar, constituído com pessoal formado nos dois primeiros cursos (05-06-1961 a 05-08 e 14-08 a 14-10-1961). Os sargentos provinham da classe de monitores, os marinheiros da classe de artilheiros e manobras e os grumetes da incorporação de 1960.
O DFE1 era comandado pelo 1º tenente Augusto Henrique Coelho Metzener e dele faziam parte os oficiais 2ºs tenentes Luís Camós de Oliveira Rego e José Júlio Abrantes Serra e o Subtenente FZE da Reserva Naval (RN) João Pedro Gião Toscano Rico; os 2ºs Sargentos FZ Luís Alberto Marques Pereira, Bernardino Rodrigues, João Alves da Encarnação e o 2º SAR H Sebastião Eduardo Nunes. Compunham as praças 19 marinheiros, 18 primeiros Grumetes (1GR) e 41 segundos Grumetes (2GR). Ainda não havia praças com o posto de cabo. Só mais tarde é que se foram formando da própria classe de Fuzileiros, bem como os sargentos, à medida que foram sendo promovidos.
A chegada do DFE1, o contra-almirante Reboredo, Subchefe do Estado-Maior da Armada havia dirigido as seguintes recomendações ao Comandante Naval de Angola: «É preciso que eles tenham um período de adaptação à África. As condições são muito diferentes, e que só concorram com os pára-quedistas ou bons caçadores especiais após essa adaptação. É uma força que vai impregnada de espírito de Corpo e de panache» ( Apud Sanches de Baêna, Liv II, p. 38).
O DFE1 ficou inicialmente aquartelado nas Instalações Navais da Ilha do Cabo (INIC) em Luanda e em finais de Novembro, a bordo das fragatas Diogo Gomes e Pêro Escobar rumou para Moçâmedes, dando início a operação «Calema». Foram realizados exercícios vários nas principais cidades ribeirinhas que serviram para a adaptação dos Fuzileiros às condições africanas e simultaneamente uma operação de charme e esperança junto das populações e colonos. Segundo Sanches de Baêna transcreve na sua obra, a imprensa local não regateava elogios às novas forças especiais. Assim, e em Luanda, o jornal O Comércio pela voz do seu correspondente em Moçâmedes:
«O que vimos neste primeiro exercício dos fuzileiros navais deixou-nos maravilhados – e porque não dizê-lo? – espantados. Diabos autênticos estes rapazes da Armada! Dir-se-ia que têm feitiço e feitiço grande, como observara um velho pescador que os remirou longamente soltando uma exclamação de surpresa.
(…)
Uma admirável demonstração de que a Armada pode sentir-se satisfeita com a preparação desta gente! Para nós um motivo para confiar! E, para todos, militares e civis, um novo testemunho de que a Marinha de Guerra nos trouxe outro contributo poderoso para a luta pela sobrevivência nacional».

Em Dezembro, o DFE1 efectua três pequenas operações de limpeza na Zona de Intervenção do Norte (ZIN) conjuntamente com uma ou duas companhias do Batalhão de Pára-Quedistas nº 21 e companhia de Caçadores, que, naquelas que juntando Pára-Quedistas ficaram conhecidas como perações «Parafuso» e que ocorreram nas regiões de São Salvador e Buela.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Reactivação dos Fuzileiros. Início 1960


A duração do tempo necessário para a preparação de um Fuzileiro Especial, desde a recruta, passando pelo I.T.E. (classe de praças), era de 10 meses. Foi também esta a duração da recruta de Março de 1962 na Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro. O juramento de bandeira realizou-se a 20 de Julho; o I.T.E. a 8 de Outubro e a conclusão do Curso de Fuzileiros Especiais (6º curso e o último ministrado pelo Tenente Pascoal Rodrigues) a 19 de Janeiro de 1963. Logo no mês seguinte, o pessoal deste curso partiu para Angola integrado no Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 4, comandado por Pascoal Rodrigues tendo com o Imediato o tenente Paiva Boléo.
Os Destacamentos de Fuzileiros Especiais eram unidades de organização permanente, geralmente atribuídas aos Comandos Navais ou Defesas Marítimas. Inicialmente constituídos por um efectivo de 75 homens (2 oficiais, 8 cabos, 14 marinheiros e 44 grumetes); a partir de 1967 o número de efectivos passou a ser de 80: 4 oficiais, 6 sargentos, 14 cabos, 32 marinheiros e 24 grumetes.
Pela sua própria natureza (operacional) e número de efectivos, os DFEs não dispunham dos tradicionais meios de apoio logístico e burocráticos: secretaria, rancho, abastecimentos, saúde e outras dependências). O apoio a estas unidades era prestado pelos Comandos a que estavam adstritos. Porém, em situações de grande isolamento, os Destacamentos contornavam as dificuldades criando serviços elementares dentro da própria estrutura. Sob a supervisão do oficial Imediato era atribuídas responsabilidades a oficiais e sargentos nas diversas áreas de índole logístico-administrativa (secretaria, rancho, armamento, comunicações…). O oficial Imediato respondia pelo serviço de secretaria e era o responsável pelo rancho. Para o efeito, era nomeado um cabo de rancho de entre as praças mais experientes e um cozinheiro que sobre a chefia do cabo era o responsável pelo fornecimento das refeições. O sargento-enfermeiro encarregava-se da área da saúde e o sargento mais antigo desempenhava as funções de quartel-mestre. No DFE4 o sargento-enfermeiro era Carlos Peralta Soares e o Quartel Mestre o sargento FZE Norberto Batista Lourenço.
Os Destacamentos eram compostos por secções (até ao máximo de cinco) formadas por esquadras de três homens em cada secção. Realizavam acções de assalto e patrulhamento nas vias fluviais (rios e lagos), barrando a passagem para o território nacional dos guerrilheiros sediados nas bases estrangeiras vizinhas; quer em emboscadas de limpeza quer em operações de golpe - de - mão anfíbio projectadas das zonas ribeirinhas para terra. Operações de forte mobilidade, curta duração e de grande intensidade em que o factor surpresa era primordial. Os Destacamentos participavam ainda em operações conjuntas com os outros ramos das forças armadas. Os DFEs eram portanto unidades de elite da Marinha que estiveram sempre operacionais nas três frentes, durante toda a Guerra em África.
As Companhias de Fuzileiros Navais tinham um efectivo de 140 homens (7 oficiais, 8 sargentos, nove cabos, 36 marinheiros e 76 grumetes.
Cada companhia era constituída por uma formação de comando e três pelotões de atiradores que por sua vez se decompunha numa formação de comando e três secções fazendo parte do Comando da Companhia.
A Companhia de Fuzileiros Navais era uma unidade de Fuzileiros que competia:
· Assegurar a guarda e defesa de instalações navais em terra;
· Cooperar na defesa das povoações aquarteladas, ou na segurança de outras onde a sua presença se tornasse necessária;
· Manter o serviço de rondas destinado a vigiar o comportamento dos militares da Armada, de licença;
· Representar a Armada em desfiles militares, guarda de honra, ou outras cerimónias da mesma natureza ( op. cit. Luís Sanches de Baena, p. 49, Liv. I)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Reactivação dos Fuzileiros. Início de 1960


A Escola de Fuzileiros, instalada em Vale de Zebro, foi criada formalmente em Junho de 1961 (Portaria 18 509, de 03/06/1961) embora subordinada ao Grupo nº 2 de Escolas da Armada. O 1º Director de Instrução foi o Capitão-Tenente José Joaquim de Sá e Melo Cristino que permaneceu na Escola no período de Junho/1961 a Julho de 1965, seguiram-se depois Capitão-Tenente João Humberto de Bougarth Loureiro Barbosa ( Julho de 1965 a Março de 1967) e Capitão-Tenente Guilherme Almor de Alpoim Calvão ( Março/1967 a Fevereiro/1969).
Só em Fevereiro de 1969, como refere Sanches Baena, a Escola de Fuzileiros passou a ser uma Unidade Independente. Agora comandada por um capitão-de-fragata, coadjuvado por dois oficiais superiores em que o mais antigo ou graduado desempenhava as funções de 2º Comandante e o outro as funções de Director de Instrução. Nesta nova fase, foi nomeado 1º Comandante da Escola de Fuzileiros o capitão de – fragata Bustorff Guerra.
Enquanto Unidade, a Escola compreendia os sargentos e praças da guarnição e os alunos, e era enquadrada pelo Batalhão que se dividia em quatro companhias:
1ª Companhia – guarnição da Escola de Fuzileiros;
2ª Companhia – alunos dos cursos de aplicação do 2º grau de Fuzileiros, de actualização de fuzileiros (…);
3ª Companhia – alunos do curso de especialização de Fuzileiros Especiais;
4ª Companhia – alunos do curso de instrução técnica elementar (ITE) e do curso de aplicação do 1º grau de Fuzileiros.
Era sob a orientação do Director de Instrução e coordenação do Director de Cursos que funcionava na Escola de Fuzileiros os seguintes cursos:
· ITE – com a duração de 10 semanas para as praças habilitadas com a recruta em Vila Franca de Xira (no início) destinadas a servir em Companhias de Fuzileiros ou desempenharem funções na classe de fuzileiros;
· 1º Grau – 24 semanas – destinado a preparar os 1ºs grumetes para o posto imediato de marinheiro;
· Fuzileiro Especial – 17 semanas – destinado a preparar oficiais, cadetes do Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, sargentos e praças de qualquer classe para operar em Destacamento de Fuzileiros Especiais, sendo considerado para as praças com 1º grau para efeitos de promoção.
· 2º Grau – 24 semanas – destinados a preparação de cabos fuzileiros para o posto imediato de 2º sargento.
· Instrução às forças de desembarque de navios – destinado a dar uma preparação prática a unidades de desembarque.
Assim, a 3ª Companhia iniciou o 1º Curso de Fuzileiros Especiais ainda no Corpo de Marinheiros sendo-lhes ministradas as seguintes matérias:
· Orgânica de serviço;
· Armamento;
· Explosivos, munições e demolições;
· Armadilhas, minas e contramedidas;
· Prática de utilização do armamento;
· Estratégia; Guerra subversiva, revolucionária e de guerrilha;
· Táctica;
· Infantaria de combate;
· Operações anfíbias;
· Comunicações;
· Preparação física e militar (educação física, cross matinal diário, combate, corpo-a-corpo, lodo, judo, boxe, tiro e natação…)
· Higiene e primeiros socorros;
· Condução e instrução do pessoal;
· Marinharia;
· Regulamentos militares;
· Serviços de Secretaria…
Foi com base nos ensinamentos do 1º Curso, que teve início em Junho de 1961, que se constituiu a Unidade, na Escola de Vale de Zebro, dos Fuzileiros. Navais para as Companhias e Especiais para os Destacamentos. No caso dos alunos da 3ª Companhia ficarem reprovados no Curso de Fuzileiros Especiais eram classificados em Navais e eram destinados ao guarnecimento das Companhia e dos Comandos Navais.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Reactivação dos Fuzileiros. Início de 1960
… Continuação






Como já foi referido no post anterior, a Classe de Fuzileiros foi criada pelo Decreto - Lei nº 43 515, de 24-02-1961, que passou a agrupar as classes profissionais de sargentos e praças da Armada da seguinte forma:
1. Dos artilheiros;
2. Dos artífices electricistas;
3. Dos artífices radioelectricistas
4. Dos artífices condutores de máquinas;
5. Dos fogueiros-motoristas;
6. Dos radiotelegrafistas;
7. Dos radaristas;
8. Dos electricistas;
9. Dos torpedeiros-detectores;
10. Dos carpinteiros;
11. De manobra;
12. Dos sinaleiros;
13. Dos enfermeiros;
14. Da taifa;
15. Dos músicos;
16. Dos clarins;
17. Dos escriturários;
18. Dos condutores de automóveis;
19. Dos mergulhadores;
20. Dos fuzileiros.
No citado diploma é apresentado um mapa com o número de postos, distribuídos por classes e com os totais. Aqui fica cópia para quem tiver interesse em consultar:

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


Reactivação dos Fuzileiros. Início de 1960
… Continuação


Sanches Baena, na sua Obra (Livro I, – Factos e Feitos na Guerra de África - p. 28) destaca o dinamismo do 1º tenente Maxfredo Ventura da Costa Campos, que, enquanto um dos oficiais - alunos do 1º Curso de Fuzileiros, fora encarregado de encontrar um local para a instalação de uma escola de fuzileiros e chamado para dar o seu parecer sobre viaturas, armamento e equipamentos sugeridos… Quanto a escolha do local, num primeiro momento seria nos terrenos circundantes do Grupo nº 2 das Escolas de Armada, na estação da azinheira e finalmente recaiu nas instalações navais de Vale de Zebro por oferecer as melhores condições para a formação da Escola de Fuzileiros. A sua localização – confluência da ribeira do Zebro com o rio Coina -, mouchões e praias fluviais, óptimas para condições para exercícios de desembarque e com a mata nacional, conhecida pela “Mata da Machada; a existência de edificações adaptáveis e integradas numa extensa área e cais de atracagem para pequenas embarcações.
O 1º tenente Maxfredo foi nomeado nesta época Comandante do Batalhão de Instrução. A Educação Física estava a cargo do tenente Heitor Patrício; o armamento ligeiro e habilitações literárias por conta do 2º tenente Tomé da Reserva Naval; o 1º tenente Nunes dos Santos era o responsável pela instrução das máquinas, da escola de condução, garagem e viaturas.
Enquanto se aprontava as obras na Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro, corria o Curso de FZE no Corpo de Marinheiros:
“Foi um curso dividido em duas fases, a primeira a ter início em 5 de Junho de 1961 e a segunda em 14 de Agosto. Ambas foram frequentadas por 40 praças (destinadas a formar o primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais) e ainda pelo 1º tenente Metzener, 1º tenente Maxfredo da Costa Campos, 2º tenente Oliveira Rocha, 2º tenente Mendes Barata, 2º tenente Vasconcelos Caeiro e o 2º tenente Oliveiro Rego” (Sanches de Baena, Liv.1, p. 24).
A base de recrutamento inicial foi fornecida pelas próprias fileiras da Marinha. Havia como que uma espécie de programas de “reciclagem” para marinheiros ou “cursos de conversão”. Não sendo suficiente o pessoal – voluntários dos quadros da Marinha – foi preciso reforçar a incorporação de 1960 para fornecer os 2ºs grumetes que entretanto já haviam assentado praça. Estes, após terem frequentado a Instrução Técnica Elementar (I.T.E.), na Escola de Vila Franca de Xira, foram depois seleccionados entre os que ficariam Fuzileiros Navais e os que iriam frequentar o curso de Fuzileiros Especiais. Sanches Baena considera estas praças (incorporadas na Armada com o objectivo de servir nas novas forças) os “primeiros fuzileiros de raiz”. Esta forma de recrutamento (dentro dos próprios quadros da Armada) esgotou-se rapidamente e então recorreu-se à população civil “fazendo apelo ao desejo de um recruta pertencer a uma força de elite”.
Os oficiais fuzileiros eram recrutados entre os cadetes do curso da Escola Naval que terminavam os seus cursos e os cadetes que frequentavam o Curso Oficial da Reserva Naval na mesma instituição.
Deste modo, de acordo com os diplomas legais foram criados:
· Classe de Fuzileiros para sargentos e praças (DL 43 515, de 24-02-1961);
· Classe de Oficiais de Fuzileiros na Reserva, oriundos de mancebos com frequência ou curso universitário. A Portaria nº 18 393, de 18-04-1961 previa ainda o recrutamento de oficiais de reserva naval com as seguintes escolas e cursos superiores:
o Faculdade de Direito
o Faculdade de Letras (excepto curso de Ciências Pedagógicas);
o Instituto Superior de Agronomia;
o Instituto Nacional de Educação Física;
o Instituto Superior de Estudos Ultramarinos;
o Escola Superior de Belas-Artes (somente Arquitectos)

· Classe de Especialização de Fuzileiros Especiais para Oficiais – 1ºs ou 2ºs tenentes das diversas classes de Marinha, destinados a servir como comandantes e imediatos nas Unidades de Fuzileiros (Portaria nº 18 525, de 14-06-1961).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


Reactivação dos Fuzileiros. Início de 1960
… Continuação

Assim, a 22 de Agosto de 1960, o 2º tenente da classe de Marinha, Alberto Manuel Barreto Pascoal Rodrigues e 3 marinheiros, oriundos da classe de monitores, Ludgero dos Santos Silva (Piçarra), Mário Claudino e João Cândido dos Santos Santinhos, foram frequentar o curso de Royal Marine Command, em Inglaterra (Infantry Training Centre Royal Marines) com êxito: Mário Claudino ficou em 1º lugar no esquadrão entre os ingleses e recebeu como prémio uma medalha.

Por proposta nº 93 de 26 de Maio de 1961 do CEMA, do Vice-Almirante Joaquim Sousa Uva para o Ministro da Marinha, o Curso de Fuzileiros passou a ser ministrado pelos quatro elementos que se tinham deslocado a Inglaterra.
A referida proposta citava o diploma que criou a especialização de fuzileiros especiais (Portaria nº 18 314 de 13.01.61), na classe de fuzileiros e permitia a especialização a outras classes; no ponto seguinte (nº2) dava por praticamente concluídos os preparativos para se dar início aos cursos de fuzileiros especiais na Escola de Fuzileiros.
Preparativos esses que tiveram lugar meia dúzia de meses antes do começo do 1º Curso de FZE, ainda no Corpo de Marinheiros do Alfeite. A equipa recém-formada em Inglaterra, em 30 de Setembro de 1960, deu início ao 1º Curso de Fuzileiros Especiais em 5 de Junho de 1961. Durante esse período, o tenente Pascoal Rodrigues ocupou-se com o lançamento das bases “de tudo o que foi feito posteriormente pela Escola”. A aquisição de equipamentos: obtenção de camuflados, a ideia da compra de macacões verdes para uso durante os treinos; a definição das armas que viriam a ser usadas; o manejo da arma na ordem unida, a necessidade de botes de borrachas; a razão do nome “Destacamento e o número de efectivos”; a inovação da integração .de enfermeiros no curso de fuzileiros especiais e o uso das boinas azuis e suas razões... O estudo, manutenção e actualização dos conhecimentos técnicos e tácticas militares ocorridas na Europa e Estados Unidos, durante e depois da II Guerra Mundial. O fenómeno da guerra de guerrilha ou subversiva, assim designadas, e as formas defensivas de prevenção e ofensivas do contra-ataque (emboscadas, golpes – de - mão, anfíbios, operações desembarques…). O outro património, talvez ainda mais importante, foi a “mística dos fuzileiros”, norteada por valores éticos e princípios :
“ A existência de um «espírito de corpo» peculiar aos fuzileiros e a noção de que faziam parte de uma força de elite, com homens de capacidades e habilidades acima do normal, e a necessidade de fomentar a amizade entre camaradas sabendo que a vida de um depende do outro, foram de imediato implantados e essa mentalização muito ajudou a fazer dos Fuzileiros aquilo que demonstraram vir a ser em 14 anos de guerra” (correspondência, Cmdte Pascoal Rodrigues. Brasil).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África





Reactivação dos Fuzileiros. Início de 1960


A necessidade de nova reactivação dos fuzileiros tornou-se evidente face aos acontecimentos de 1960 no Congo Belga e é aqui que o então Comodoro Reboredo e Silva, que anteviu o conflito que se avizinhava em África se movimentou no sentido de adoptar medidas necessárias para a projecção de uma força militar em terra a partir dos navios. A adopção destas medidas causou uma forte resistência em diversos quadrantes, argumentando que a Marinha não estava preparada para uma guerra em terra e o conflito que se aproximava não necessitava de forças anfíbias. Estas só serviriam para reduzir ainda mais os magros recursos orçamentais da Marinha. O contra-argumento não fez vencimento e foram destacados oficiais do Estado-Maior para os centros das operações especiais do exército em Lamego, para Espanha, para Argélia e para o Reino Unido, a fim de examinarem as várias possibilidades do estabelecimento da força proposta.
Os acontecimentos em Angola aceleraram e o pedido do Comando Naval recomendava uma força de desembarque especializada para operar a partir dos navios patrulhas, instruídas em tácticas e procedimentos de infantaria. Em resposta, Reboredo e Silva procurou a aprovação do Chefe de Estado-Maior da Armada, sugerindo que fosse ministrado treino no estrangeiro para a criação de um pequeno quadro de oficiais e sargentos de forma a servirem de instrutores numa escola de treino para a infantaria naval.
Ainda no início de 1959, Reboredo e Silva, tinha optado pelos franceses para treinar um grupo de oficiais e sargentos na Escola de Fuzileiros no Centro Siroco, Cabo Matifou, próximo da Argélia. O período de treinos para oficiais era oito meses, mais dois para a especialização e de cinco a três meses para o pessoal recrutado (John P. Cann, p.112). Os ingleses apresentaram uma proposta de um curso de nove semanas, mais ajustado as necessidades portuguesas, em contraste com os franceses que haviam insistido num curso básico antes do curso de especialização de comandos. A escolha, sob proposta Reboredo e Silva - então Capitão-de-mar-e-guerra – ao CEMAR, recaiu sobre os ingleses não só por ser o curso de menor duração mas aquele que melhor servia os objectivos e interesses de Portugal. O modelo inglês, os “Comandos da Royal Navy” é uma força de elite da Marinha inglesa, criado no decurso da 2ª Guerra – Mundial, com larga experiência em teatros de operação

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


Os Fuzileiros, origem e formação

A necessidade da Marinha portuguesa dispor de uma força de infantaria ligeira é antiga e tem as suas razões históricas. Já em 1585 a Marinha havia introduzido uma formação específica quanto ao uso de artilharia e armas de fogo em relação a elementos da guarnição que navegavam para a Índia, visando uma protecção aos navios e portos; em Abril de 1621, é formado o Terço da Armada da Coroa de Portugal já como unidade organizada e com privilégio nas cerimónias militares, formando sempre à direita de qualquer outra força e sendo a primeira a destroçar. Já nessa época os homens de infantaria se destacavam no contributo que davam para a redução da ameaça da pirataria ao longo das rotas comerciais portuguesas a bordo dos navios e da costa africana através do Oceano Índico até ao extremo Oriente e Japão ou pelo Atlântico nas rotas da América do Sul. Eram estas forças que protegiam as fortalezas e os enclaves comerciais ao longo das costas durante os Descobrimentos portugueses, passando por várias designações como Infantaria da Marinha, Brigada Real da Marinha, Regimento da Armada, Batalhão Naval, Corpo de Marinheiros Militares e Brigada da Guarda Naval. Em 1797, o termo fuzileiro apareceu na Marinha com a formação da Brigada Real de Marinha dividido em três grupos: Companhias de Artilheiros Marinheiros, Companhias de Fuzileiros Marinheiros (operações de desembarque e defesa…) e Companhias de Artífices e Lastradores Marinheiros. O efectivo total da brigada era composto por 5 222 homens.
Foi um contingente de fuzileiros que acompanhou o rei D. João VI e a corte portuguesa para o Brasil em Março de 1808. Em 1822, quando D. Pedro IV se declarou Imperador do Reino do Brasil, com a inevitável separação de Portugal, aquele contingente constituiu a base dos Fuzileiros Navais do Brasil. Para além das vicissitudes históricas e designações deste Corpo especializado da Marinha, em 1890 o Corpo foi dissolvido no reinado de D. Carlos I para voltar a ser reactivado durante um breve período de 1924 a 1926, agora como Brigada da Guarda Naval (para fornecer segurança às bases navais e aos navios). Passado aquele período, cerca de dois anos, a brigada voltou a ser dissolvida.



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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África


A Importância da criação do Quadro de Oficiais da Reserva Naval

Outro dos problemas que a Marinha se defrontava desde a década de quarenta do sec. XX, era um programa para a formação de oficiais da reserva para reforçar o Quadro Permanente, sobretudo em determinadas especialidades como a engenharia mecânica, eléctrica e química e depois das especialidades médica. Foram feitos estudos sobre o modelo da Marinha francesa e da Marinha Real Inglesa até que por um diploma de 26 de Novembro de 1957, a Marinha portuguesa passou a abranger na sua reorganização reservas do pessoal. O Exército objectou, com receio de que este tipo de recrutamento se fizesse à sua custa, com prejuízo de um programa semelhante existente nos seus quadros. Provou-se que não tinha razão – dado a grande dimensão dos quadros do Exército em comparação com os da Marinha. A criação do Quadro de Oficiais da Reserva Naval (ORN) veio a revelar-se sensata, útil e de grande alcance nos treze anos de conflito africano.
Os candidatos aceites ao curso da ORN deviam completar duas fases ou ciclos de instrução. A primeira de carácter básico, envolvendo treinos físicos e cursos de instrução à guerra naval (idêntico para todos os cadetes). O segundo ciclo, apoiado no primeiro, era mais sofisticado e direccionado para o desenvolvimento de conhecimentos práticos dos candidatos em cada especialidade naval. Uma vez completados estes dois ciclos de instrução com sucesso, cada cadete era admitido como subtenente com a obrigação de prestar serviço por um período mínimo de um ano, renovável por períodos sucessivos até ao máximo de cinco. O oficial da RN estava obrigado a servir no Ultramar por um período não inferior a um ano e era logo promovido a 2º tenente à data de partida da metrópole. A promoção a 1º tenente acontecia ao fim de cinco anos (com desempenho recomendável no posto anterior) e era o posto máximo que podia atingir (John P. Cann p. 123). Desta forma, como dirá o refrão popular “matava-se dois coelhos de uma só cajadada”: Evitava os perigos inerentes à antiguidade e promoção do corpo de oficiais dos Quadros Permanentes e conseguia aumentar o número de oficiais subalternos com boa preparação. Este reforço dos Quadros de Oficiais da Marinha veio a ser imprescindível para as operações na guerra de contra-subversão em África. Na realização dos três primeiros cursos de instrução na Escola Naval (1958-1959-1960) formaram-se novas categorias de oficiais num total de sete classes:
1. Marinha (M)
2. Engenheiros de Construção Naval (ECN)
3. Médicos Navais
4. Farmacêuticos Navais (FN)
5. Engenheiros Maquinistas Navais (EMQ)
6. Administração Naval (NA)
7. Fuzileiros (FZ)
Um quarto curso, iniciado em Outubro de 1961, formaram-se 44 cadetes, 9 dos quais eram os primeiros fuzileiros da Reserva Naval. Depois em Maio de 1966 foi criada uma nova classe de Técnicos Especialistas (T.E.). Com refere John P. Cann, Foram realizados 25 cursos e formados 1.712 oficiais da reserva naval. Muitos destes oficiais foram seleccionados para comandar unidades navais em todo o Ultramar e lideraram com sucesso unidades de fuzileiros.
A Marinha tinha entrado na guerra com falta de pessoal não obstante os esforços e melhoramentos desenvolvidos no sentido de antecipar tais necessidades. Não era só a falta de pessoal como também de navios que acusavam uma idade avançada.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Plano Naval

O plano naval no seu conjunto foi afectado pelos ajustamentos da política nacional e teve de ser adaptado para a “guerra contra-subversão de África”. Os navios da Marinha de Guerra Portuguesa existentes não tinham sido concebidos para África e não correspondiam às necessidades de combate em rios. A maior parte deste material (Contratorpedeiros, Corvetas, Patrulhas, Lanchas de Fiscalização e de Desembarque…) foram adquiridos à França, Alemanha e Estados Unidos. No fundo, tinham sido navios e embarcações concebidas e construídas para as operações anfíbias da 2ª Guerra Mundial e que foram adaptadas para operar em águas dos interiores e fluviais. Isso aconteceu com os franceses no Viet Minh e mais tarde, em 1965, com os Estados Unidos.
É interessante, a referência no Livro de John P. Cann ( A Marinha em África…), página 70, alusiva ao Vice-Almirante Sachetti, a propósito da “Estratégia Emergente”, passo a citar: “ Logicamente seria de esperar que os vários planos navais fossem um reflexo da política e da estratégia naval portuguesa e decorreriam destas. Tal não era o caso, porque não havia quaisquer documentos formais que os descrevessem. Sem estas linhas mestras, a composição da esquadra proposta tornava-se sujeita a um qualquer número de variáveis. Como Saccheti referiu justamente, a definição de uma estratégia concertada e a sua evolução é muitas vezes o resultado de uma análise subsequente que explique o que aconteceu e porque aconteceu em vez de ser um processo estabelecido para guiar para actividades futuras”.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África



A 2ª Marinha
A 2ª Marinha dá os seus primeiros passos em 1956 (quando começaram a surgir problemas de insurreições no Congo Belga) com a criação dos Comandos Navais em Angola e Moçambique e dos Comandos de Defesa Marinha. Todo o Plano Naval da nossa Marinha de Guerra, desde 1930 era oceânico. Depois da 2ª Guerra Mundial e com a integração de Portugal na aliança Atlântico (NATO em 1955) a Marinha teve de se reorganizar segundo os novos padrões de exigência. Para isso houve necessidade de treinar aceleradamente os seus quadros, com a adaptação do pessoal militar a uma nova realidade de acordo com as políticas no âmbito da aliança.
O novo plano, que teve inicio a partir de Janeiro de 1957, obrigava a revisão da “política da canhoeira” que até então tinha servido África e o Ultramar. Nesta perspectiva, surge a ideia de uma Marinha com uma força de Fuzileiros embarcados em porta-aviões, preparada para actuar em apoio das operações terrestres, com grande mobilidade e flexibilidade tal como os “Royal Marines” ou “U.S. Marines.” Esta ideia contaria com a previsível oposição da Força Aérea Portuguesa e do Exército porquanto os seus custos absorveriam uma parte maior do orçamento da Defesa. Por outro lado, a aviação naval fora fundida na Força Aérea Portuguesa, em 1952, e necessitava de recursos disponíveis para a aviação.
Uma segunda linha de pensamento, mais clássica e menos dispendiosa, apontava para uma força de fuzileiros e navios de porte adequado para operações nas águas interiores, adaptados ao ambiente africano (idem p. 59). O conflito que se previa era uma guerra de guerrilha que não requeria a projecção do poder a partir do mar. A experiência francesa no delta do Mekong, na Indochina, demonstrara a eficácia de uma força pequena, especializada e de relativo baixo custo, apoiada por aviação baseada em terra. Assim, em 1961, de acordo com um plano nacional, encetaram-se negociações com o estaleiro alemão para a aquisição de corvetas. A partir de 1966, a corveta foi apresentada como num conceito modular de sistema de sensores e armas, e o projecto constituiu um dos sucessos mais notáveis de engenharia naval portuguesa.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Comentário-2
Ao conversar com alguns antigos companheiros fuzileiros, que vivenciaram os treze anos de Guerra em África e nas três frentes, não gostaram de algumas das análises reflectidas nos livros de Aniceto Simões e Carlos de Matos Gomes publicadas com o jornal “Correio da Manhã”. Também eu – que até gostei da Obra – fiquei um tanto desapontado e deu-me a impressão que estes autores (ex-militares do exército) não foram lá muito imparciais em relação à Marinha e aos Fuzileiros; ou então é a própria redacção que deixa margem para interpretações várias… Assim, na página 82, livro 2 pode-se ler:
1. “ Os fuzileiros foram criados por decisão exclusiva da Marinha, que não queria ficar de fora da guerra em terra”. “A criação destas unidades resultou de necessidade da Marinha, mas nunca foi enquadrada nas necessidades gerais das Forças Armadas … como se houvesse uma Guerra da Marinha, outra do Exército e outra da Força Aérea.”
2. “Os Destacamentos de Fuzileiros Especiais e a Companhia de Fuzileiros organizavam-se de acordo com a doutrina da Marinha e sem qualquer coordenação com o Exército, que seria responsável pelo dispositivo operacional e pelo emprego das forças”
Este tipo de análises não são, do meu ponto de vista, felizes e não traduzem a verdadeira dimensão do problema. Até parece que a (re)criação dos fuzileiros foi um luxo da Marinha (decisão exclusiva) e não uma necessidade político-militar, nacional e integrada num esforço de guerra… ou que o Presidente do Conselho, Prof. Oliveira Salazar, que até assumiu a pasta da Defesa Nacional, após ter demitido o general Botelho Moniz, então ministro da Defesa Nacional em 1961, não estivesse devidamente informado!
A Marinha não prestou apenas apoio logístico as forças terrestres do exército, nem se limitou a transportar os militares nas rotas fluviais e do litoral, nem a patrulhar e fiscalizar as comunicações marítimas e fluviais, nem a assegurar os meios de comunicações das suas Estações e Rádio Navais que serviam todas as forças armadas – o que já era muito! Projectava também a sua actuação ofensiva em terra, artilharia, protegendo inclusive a progressão no terreno das forças terrestres… Houve mesmo secções das guarnições dos navios em Ambriz e Ambrizete que actuaram conjuntamente com o exército em defesa das populações. Durante o início de 1961 e após os incidentes em Luanda, grande parte da população, estimada em 200.000, fugiu para o Congo onde as forças da UPA tinham os seus santuários de preparação dos guerrilheiros. O Rio Zaire e a Lagoa de Massabi (Cabinda) e mais a Sul o rio Cuanza, eram autênticas auto-estradas de passagem do IN. Quem, senão a Marinha e os Fuzileiros tinham capacidade para impedir tais incursões? Honra seja também prestada à Força aérea nos apoios logísticos, de transporte de feridos e nas acções de reconhecimento, e acções ofensivas de combate aéreo para diminuir ou eliminar a pressão dos insurrectos sobre as forças terrestres.

Continua...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Comentários-1

Já tinha lido parte da Obra de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes sobre a «Guerra Colonial» da Editorial Noticias. No ano que findou, foram publicados semanalmente vários livros (16), dos mesmos autores (edição Cofina), no Correio da Manhã com o título «Os Anos da Guerra Colonial». Acredito que esta forma divulgação permitiu expandir a Obra e atingir um maior número de leitores. Pessoalmente, considero uma boa Obra e um trabalho histórico bem documentado, visando, de uma forma abrangente, dar a conhecer a participação dos três ramos das Forças Armadas nas três frentes de combates em África (Angola, Guiné e Moçambique), durante todo o período em conflito até às suas independências. Igualmente considero, agora particularmente os Fuzileiros, na importante Obra "referência "obrigatória" de Luís Sanches de Baêna «FUZILEIROS – FACTOS E FEITOS NA GUERRA DE ÁFRICA 1961/1974. Por último, a Obra de John P. Cann (membro associado da Academia de Marinha para os assuntos de História Marítima, investigador e membro Auxiliar na Universidade da Virgínia; comandante aposentado e oficial de voo especializado em aviação de reconhecimento marítimo - Em 2005 publicou Contra-Subversão em África.) um livro muito interessante, intitulado «A MARINHA EM ÁFRICA – Angola, Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais 1961-1974» da Prefácio. Esta última Obra fornece uma perspectiva esclarecedora sobre o papel da nossa Marinha em África. Nessa medida, permite ainda analisar um ou outro facto passado descrito por outros autores sobre a mesma matéria e comparar, até comentar, determinados pontos de vista. O primeiro e o mais importante de todos são o reconhecimento deste último autor acerca do esforço dos militares portugueses em África, durante treze anos, com escassos meios, recursos materiais e humanos. A imaginação das forças armadas portuguesas e a sua capacidade inventiva para aguentar uma guerra de guerrilha desgastante…
No que respeita a Marinha cujos recursos eram paupérrimos, fizeram-se autênticos milagres. Diz John P. Cann: “ Quando os problemas começaram em Angola nos primeiros meses de 1961, a Marinha Portuguesa tinha apenas uma modesta representação disponível para ajudar a restabelecer a ordem civil e defender a integridade das suas fronteiras. E depois acrescenta: “(…) a partir de 30 de Junho de 1960, ou seja o dia da independência do Congo. Nesta altura as únicas unidades navais existentes no teatro eram uma fragata (Pacheco Pereira) dois patrulhas (Sal e S. Vicente a operar no Zaire e proximidades) e uma estação Rádio Naval, parcialmente construída”. Mas antes disso, o passo importante foi alcançado em 1959 no Plano de Construção Naval sobre a definição de duas Marinhas distintas e independentes. Uma Marinha Oceânica e europeia, integrada na NATO, e uma Segunda Marinha Africana, Fluvial para operar em África, nos rios … A primeira, para honrar os seus compromissos com a Nato que era constituída por:
6 - fragatas modernas da classe “US Dealey”,
9 - corvetas da classe italiana “Airone”,
3 - bmarinos, classe francesa “Daphné” e
18 - draga-minas;
A Marinha Africana (que partiu do zero) era formada por:
6- fragatas francesas da classe “Commandat Rivière”;
6 - corvetas da clsasse italiana “Airone”
29- patrulhas (ibidem, p. 60)
Jogar com tudo isto, sem meios, só nós portugueses… Em tempo recorde, vieram as Lanchas de Fiscalização, de Desembarque e mais duas ou três, fragatas, corvetas para patrulhamento e defesa das vias de comunicação marítima e fluvial.