segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Memorando DFE4 - Angola 1963-65

Os primeiros contingentes militares para Angola: 19 e 21 de Abril de 1961

Em 13 de Abril de 1961, Oliveira Salazar passou a ocupar a pasta da Defesa Nacional, após a tentativa de golpe de Estado de Botelho Moniz e ordenou o envio rápido e em força de militares para Angola: Os primeiros contingentes saem de Lisboa a 19 de Abril e em 21, respectivamente por via aérea e marítima.

Os primeiros efectivos militares chegam a Angola em 1 de Maio de 1961. É a fase da reocupação que tinha como objectivo cortar as linhas de ligação aos guerrilheiros com as suas bases no Congo. Damba e Sanza Pombo são ocupadas pelo Batalhão de Caçadores 88 e 92, respectivamente; São Salvador pelo Batalhão de Caçadores 156 e Ambrizete, Santo António do Zaire e Nóqui por uma Companhia cada do Batalhão de Caçadores.

As forças da Marinha, desembarcadas em Ambrizete, ocupam Tomboco e Quinzau, em 14 de Junho de 1961.[1]
Em 19 de Abril de 1961 embarcaram na TAP três pelotões de Pára-quedistas para Angola;
Em 10 de Novembro de 1961 embarca para Angola o Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 1 ;
Em 28 de Agosto de 1962 segue o Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 3;
Em 26 de Fevereiro de 1963 o Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 4;
Em 21 de Junho de 1963, o Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 5;
Em 21 de Setembro de 1963 o Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 6.

Pára-quedistas, a chegada das tropas à Luanda em 1961 e
depois os Fuzileiros: DFE1



















(fotos Internet)
[1] No início dos acontecimentos de Angola, o dispositivo da Marinha era constituído pelo Comando Naval de Angola, criado em 1958 com as seguintes unidades navais: fragatas Pacheco Pereira, Nuno Tristão e Diogo Gomes e os patrulhas: São Vicente e São Tomé e o navio hidrográfico Carvalho Araújo. Fazia-se o patrulhamento na Costa de Cabinda, Sazaire e Nóqui

domingo, 28 de dezembro de 2008

Memorando DFE-4 - Angola 1963-65

A mudança a favor da política portuguesa da parte norte-americana dá-se em 1962. Com a construção do Muro de Berlim em 13 de Agosto de 1961 e a crise dos mísseis de Cuba, em Outubro de 1962, o papel geoestratégico dos Açores sai reforçado e Portugal usou esse trunfo.
Os anos sessenta são também os anos da independência dos países africanos. A do Congo Belga deu-se em Junho de 1960 e na sua sequência foi planeado o assalto às prisões em Luanda: a Casa da Reclusão Militar e o Forte de São Paulo visando a libertação de presos políticos.
A UPA foi a primeira organização a iniciar as hostilidades em grande escala em Angola embora não tenha reivindicado o ataque de 4 de Fevereiro às prisões. Este viria a ser reivindicado pelo MPLA com a sua direcção exilada em Conacri.
Em Março de 1961, a UPA assalta e queima povoações e fazendas no Norte de Angola: áreas desguarnecidas militarmente. Há sublevação em São Salvador, Uije, Dembos, Luanda e Cuanza Norte.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Boas-Festas

A todo o pessoal da «Briosa», marinheiros e fuzileiros, e ainda eventuais visitantes deste recente blogue, desejo a continuação de «Boas-Festas» e um bom Ano Novo.







sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Memorando DFE4. Angola 1963-65

Com o desenvolvimento da Guerra-fria, Portugal seria convidado para membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), tendo a sua candidatura sido aceite em 1955. Nesta data Portugal foi confrontado de imediato com o problema da descolonização da Índia. Mas é sobretudo no início dos anos sessenta que a pressão internacional mais se faz sentir sobre Portugal.






Foto de José Alves ( esteve na Índia A bordo do NRP João Lisboa e Aviso Afonso de Albuquerque)
A hostilidade ao Governo de Lisboa foi aumentando à medida que os povos asiáticos e africanos passaram a fazer parte da ONU e esta se converteu em porta-voz dos países do terceiro-mundo.
Em 15 de Dezembro de 1960, a Assembleia-geral das Nações Unidas votava a Resolução 1542 declarando considerar os territórios sob a administração portuguesa territórios não autónomos e que as autoridades portuguesas deveriam fornecer informações referentes a estes territórios (...) directamente ao secretário-geral; que as autoridades portuguesas estavam convocadas para participar nos trabalhos da comissão relativas aos territórios não autónomos. Pretendia-se com estas e outras Resoluções questionar a definição de «território não autónomo» e a criação de condições para a sua passagem a uma situação de «governo próprio».

J..F. Kennedy, Jânio Quadros (Pres. Brasil), Holden Roberto, Agostinho Neto e Nikita KhruscheV

O isolamento à política portuguesa agravou-se ainda mais com a eleição do Presidente dos EUA, em Novembro de 1960, John Kennedy. A partir de então houve da parte norte-americana uma mudança radical na política africana a favor da descolonização dos territórios portugueses. Em Março de 1961, nas Nações Unidas, os EUA votaram contra Portugal. Kennedy pretendeu assim aproximar-se do nacionalismo negro, apoiando mesmo alguns movimentos de libertação como aconteceu com a Frente Nacional de Libertação de Angola de Holden Roberto e, simultaneamente, evitar a penetração da URSS em África. Também o Brasil de Jânio Quadros, eleito Presidente em Outubro de 1960, votaria contra Portugal no Conselho de Segurança em Fevereiro de 1961.
A ONU, em 21 de Julho de 1963 votava a Resolução S/5380 (com a abstenção da França, Reino Unido e EUA) em que rejeitava o conceito de «Províncias Ultramarinas»[1] e apelava a Portugal para reconhecer o direito a autodeterminação e independência. Salazar, depois de apelar ao povo português para a defesa e integridade da Nação, concluía o seu discurso, com uma nota que serviu de propaganda: «nós havemos de chorar os mortos, se os vivos os não merecerem».
[1] Até a revisão da Constituição Portuguesa de 1933 (Acto Colonial), os territórios além-mar denominavam-se colónias e constituíam o Império Colonial Português. Com a revisão e promulgação da Constituição, pela Lei 2 048 de 11 de Julho 1951, passou a ter a designação de «Ultramar Português». Em 24 de Junho de 1963 é aprovada a Lei Orgânica do Ultramar Português. Doravante, as colónias serão designadas Províncias Ultramarinas. Esta mudança de nomes era também uma resposta de defesa ao Direito e Instâncias Internacionais: Portugal não possuía colónias nem impérios mas apenas território em que uma parte se situava dentro da Europa e outra fora dela. Assim qualquer intervenção ou acção da ONU, designadamente à província de Angola, representava uma violação da soberania portuguesa e era ilegal.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

MEMORANDO - DFE4. Angola 1963-65

Anos sessenta
Os anos sessenta eram anos difíceis para a maioria da população portuguesa que teve de emigrar do País, sobretudo para os países da Europa: França, Alemanha, Bélgica... A França foi o País que acolheu mais portugueses. Alguns emigraram clandestinamente, a salto, como então se dizia. Parece um paradoxo mas a economia nos anos cinquenta e sessenta (período pós – Guerra) estava em crescimento na Europa. Em Portugal – que recusara o Plano Marshal – estava bem mais atrasada. As colónias eram uma esperança!

Imagens da emigração na década de 60.
Com o eclodir da Guerra em África, no início de sessenta: em Angola começou em Fevereiro de 1961, com os ataques dos guerrilheiros da UPA às fazendas e postos administrativos, tendo-se alastrado depois à Guiné em 1963 e a Moçambique em Setembro de 1964. Ouve portanto uma necessidade política de mobilizar militarmente a juventude para neutralizar e combater os guerrilheiros – então designados por terroristas – afectos aos movimentos de libertação das Províncias Ultramarinas. Os empregos eram difíceis obter, senão quase impossíveis, para determinada faixa etária, próxima dos vinte anos, sem o Serviço Militar cumprido. As entidades patronais não queriam ficar vinculadas à contratação de mancebos que pouco depois eram retirados para as fileiras militares, com a agravante de uma vez cumprido o serviço militar terem de os readmitir nos seus antigos postos de trabalho: Era essa a política, assim como era dada primazia nos empregos públicos aos ex-combatentes de guerra. Uma compensação ou estímulo para aqueles que combatiam pela Pátria.
Os acontecimentos dos anos sessenta foram também conturbados ao nível nacional e político: Em Janeiro de 1961 Henrique Galvão toma de assalto o paquete Santa Maria[1], em Abril desse mesmo ano houve tentativa de golpe de Estado do general e Ministro da Defesa Júlio Botelho Moniz e em Dezembro a ocupação da Índia pela União Indiana. Na Índia, os primeiros incidentes surgiram em 1954 com as ocupações dos enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, dependências de Damão, e depois em 1960 com a ocupação do Forte de São João Baptista de Ajudá por Daomé.
[1] O paquete navegava entre Curaçado e Miami e deram-lhe o nome de Santa Liberdade. Era Comandado pelo Comandante Simões Maia e além da tripulação levava 600 passageiros. O piloto José do Nascimento foi morto. Rumo ao Brasil e no Porto do Recife desembarcaram os passageiros e o navio foi ocupado por fuzileiros navais brasileiros. A operação durou 12 dias. De volta a Portugal (16 de Fevereiro), Salazar proferiu apenas uma frase: «Temos o Santa Maria connosco, obrigado, portugueses!».
[1] Portugal só em 14 de Dezembro de 1955 viria a ser admitido como membro das Nações Unidas, tendo na altura de responder que não administrava territórios que entrassem na categoria indicada no artigo 73º da Carta...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

MEMORANDO DFE4 - Angola 1963-65

Álvaro Elias Dionísio

APRESENTAÇÃO


Nasci na freguesia de Olho Marinho, concelho de Óbidos em 22 de Setembro de 1945 e registado com o nome de Álvaro Elias Dionísio.
Em 3 de Março de 1962, com dezasseis anos, alistei-me na Armada como 2.º grumete tendo-me sido atribuído o número 16 291. Fui incorporado no Grupo nº 2 da Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro. Fiz-me, com os demais camaradas, fuzileiro especial e integrei a formação do DFE nº 4 que foi em comissão de serviço para Angola por dois anos, no período de 1963-65. Em Janeiro de 1966 passei à disponibilidade e à reserva sem limite de tempo (DL nº 41 883, de 18-02-63) com o posto de marinheiro FZE.
Na vida civil casei, tive filhos (filhas), trabalhei três anos em Moçambique. Estudei e fiz o Curso de Direito, estágio de Advocacia e dois anos de inscrição na Ordem do Advogados.
Durante trinta e tal anos fui funcionário público, dezoito dos quais exerci o cargo dirigente (Chefe de Divisão, Director de Serviços e Vice-Presidente de uma Caixa de Previdência). Enviuvei e voltei a casar.
Apesar do corre dos anos e percurso de vida seguido, que levaram ao estabelecimento de novas amizades, tanto no campo profissional como social e familiar, a passagem pelos fuzileiros esteve sempre presente na minha memória, até hoje! – Foi um acontecimento ímpar que ficou para o resto da vida.
A realização do 4º Aniversário do Destacamento nº 4 de Fuzileiros Especiais, em 5 de Março de 2005, o reencontro com os antigos camaradas e a homenagem prestada ao Comandante Pascoal Rodrigues e aos camaradas Ludgero, Claudino e Santinhos, propugnada pelo Carlos Ferreira / Almada, despertou-me para a concretização deste trabalho.
Não pretendo apresentar nenhum tratado científico onde o rigor histórico dos factos seja uma verdade fundada em provas materiais autênticas; ou em depoimentos sobre factos de interpretação unívoca. Nada disso! – É apenas o testemunho de alguém que teve o privilégio de viver a melhor parte da sua juventude nos Fuzileiros.
O nome de Memorando do DFE nº 4 – Angola (1963-65), foi o título que me pareceu sugestivo. Falar sobre este período de vida é uma maneira de lembrar os meus antigos camaradas, perpetuar a sua memória e testemunhar a importância das suas amizades. A forma inicialmente escolhida nasceu com a dificuldade de identificação das caras e dos rostos no referido reencontro. Surgiram imagens novas e diferentes. Quarenta anos passados provocaram mudanças fisionómicas acentuadas em muitos de nós - o meu caso é um exemplo – tornando difícil a identificação ou relação com o passado. Para evitar dúvidas ou confusões, nada melhor do que dispor de fotografias da época. Assim, relacionando as fotografias antigas com as mais recentes, ou com próprias pessoas, chegamos lá mais facilmente...
Em todo o processo de recolha de fotografias, de identificação do pessoal e de algumas histórias, houve o contributo de camaradas que passarei a mencionar: José Moreira Alves, Agostinho Maduro, Vitorino Santos, Júlio Santos – com fotos inéditas a cores - e Fernando Caseira (Póvoa) que conseguiu fornecer uma lista completa dos nomes que integraram a Formação do DFE nº4 e ainda uma lista com nomes e datas de embarques de avião para Angola!
Gostaria de poder falar individualmente de todos um pouco mas isso não foi possível. Como sabemos, o Destacamento foi dividido e distribuído em Secções pelos Postos do Rio Zaire. Só tive conhecimento de alguns factos que me narraram e memória encarregou-se de apagar outros...
Neste Memorando é dado particular relevância ao Comandante Pascoal Rodrigues, não por ter sido o Comandante do nosso Destacamento, o que por si só constituiria motivo de anotação do facto, mas por razões mais profundas: de justiça! – Mesmo sem ela, e durante todos estes anos, continua a ser a aquilo que sempre foi: Um fuzileiro! - Como ele já teve a oportunidade de dizer: Dos fuzileiros, na verdade eu não sei quando saí. Talvez nunca, pois continuo me sentindo um Fuzileiro até hoje...


Capítulo I
Introdução e enquadramento
Os amigos nunca são demais e nunca foram tão importantes na minha vida como no momento presente. Mário Quintana - um grande poeta brasileiro, já falecido – a propósito de amigos, escreveu:
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos...Alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Foi desta forma que iniciei o livro que escrevi, intitulado MEMORANDO – Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 4 – Angola 1963-65. Como o livro não é comercializável e foi distribuído gratuitamente ao pessoal do DFE4, pelo mecenas Almada, pensei que poderia iniciar este blogo com a sua divulgação. Se não na totalidade pelo menos em parte.
A chama avivada pelo primeiro encontro do 4.º DFE, em Vale de Zebro, Corpo de Fuzileiros da Armada, em 5 de Março de 2005, e a homenagem prestada pela Escola ao Comandante Pascoal Rodrigues e aos seus companheiros, Ludgero Silva Piçarra, Mário Claudino e João Santinhos, veio possibilitar a comunicação entre muitos dos camaradas. Os abraços e os afectos trocados na ocasião foram momentos inesquecíveis partilhados por todos. A ponte entre nós, na medida do possível, restabeleceu-se graças à iniciativa e perseverança do Carlos Ferreira (o Almada), a colaboração prestada pelo Alves, e a participação activa do Corpo de Fuzileiros.
Explicar a razão desta amizade entre camaradas, passados 40 anos, período decorrido entre 1965 a 2005, não sei! – Sei apenas que ela existe e é muito reconfortante sentir isso. Muitos de nós, terminaram a sua carreira militar logo após o regresso de Angola, em 1965, e outros foram passando à reserva ou à licença, aos poucos; uns quantos, número considerável, fizeram o seu percurso de fuzileiros com várias Comissões no Ultramar – Angola, Guiné e Moçambique - com assinalável sucesso na carreira sob todos os pontos de vista.

Criação do Blogue

A criação deste blogue deve-se a necessidade de reservar um espaço para meu usufruto pessoal.
Alguma liberdade na escolha dos temas e do seu desenvolvimento. Marinha e Fuzocultura foi o nome escolhido.

Continuarei a escrever no blog « Escola de Fuzileiros/Vale de Zebro» em parcearia com o Carlos e a apelar a todos os filhos da escola para que participem nele. De preferência como autores. Não sendo possível, comentem!



Álvaro Elias Dionísio (16291/7955)