quarta-feira, 31 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

4.GUINÉ

A Guiné era a mais difícil e mais complicada dos três teatros de operações. Foi também aquela província que maior grau de importância atingiu para a Marinha quer do ponto de vista táctico quer estratégico. Cerca de 80% dos efectivos neste território movimentava-se por mar ou via fluvial. Nos finais da guerra, quando o trânsito por estrada se tornou ainda mais complicado, a percentagem por via aquática elevou-se para 85%. Esta forma de mobilidade e transporte através dos rios e braços do mar era igualmente importante para o PAIGC. Tal como em Angola, a missão das forças navais consistia em dominar as linhas de comunicação por mar, pela costa e pelas vias fluviais e apoiar o exército e as populações com a capacidade dos seus meios de transporte marítimo e projectar fogo para terra.
A Marinha correspondeu a esse objectivo em combinação com as Lanchas de Fiscalização, de Desembarque e os fuzileiros que, desse modo reduziu a acção do PAIGC ao dificultar o acesso de entrada no território
A luta na Guiné
Em 6 de Junho de 1962 chegou à Guiné o DFE2, transportados em dois voos da Força Aérea Portuguesa para o aeroporto de Bissalanca. O pessoal do Destacamento ficou aquartelado nas Instalações Navais de Bissau.
Formação do DFE2:
Oficiais:
1º TEN - Pedro Manuel de Vasconcelos Caeiro (comandante)
1º TEN – Mário Augusto Faria de Carvalho
STEN - Adolfo Esteves
STEN SEF – António Carlos Samões
STEN FZE RN – José Luís Couceiro
Sargentos:
2SAR FZE – Manuel Antunes Pereira
2SAR H FZE – Amélio da Silva Cunha
2SAR FZE – Joaquim Cotovio Aires
2SAR FZE – Inácio Augusto Paulos
2SAR FZE – Ludgero dos Santos Silva (Piçarra).
Praças

3- Cabos FZE
4 - Marinheiros FZE
1GR FZE - 33
2GR - 31
O comandante chefe das Forças Armadas da Guiné era o brigadeiro Loureiro de Sousa e o Governador da Província o capitão-de-fragata Vasco António Martins Rodrigues. Nessa altura a Guiné contava com os seguintes meios navais:
· Um contratorpedeiro Vouga, a partir de Dezembro de 1962;
· Um navio hidrográfico – Pedro Nunes;
· Três lanchas de fiscalização da classe “Bellatrix”
· Duas lanchas de desembarque pequenas;
· As embarcações Formosa, Corubal e Pecixe ao serviço da Marinha

domingo, 28 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

3. GUINÉ
Subversão na Guiné e o surgimento de partidos e movimentos de guerrilha. Siglas, seu significado e cronologia:
P.A.I. – Partido Africano para a Independência da Guiné – Fundado por Amílcar Cabral, anterior a 1957. Este partido antecedeu o P.A.I.G.C. (Partido par a Independência Africana da Guiné e Cabo Verde);
M.A.C. – Movimento Anti-Colonilista (dado como extinto em Tunes, em Janeiro de 1960, por ocasião da II Conferência dos Povos Africanos). Deu por sua vez origem ao F.R.A.I.N. – Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas. Esta organização englobava os movimentos conhecidos por P.A.I.G.C.., M.P.L.A. e a U.P.A. Foi extinto em Abril de 1961 para aparecer com a designação de C.O.N.C.P. (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas). Este movimento resultou de uma associação dos vários movimentos existentes para conseguirem a “Independência Nacional das Colónias Portuguesas”, designação dada após várias alterações anteriores.
M.L.G.C. – Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde. Este partido dividiu-se em dois porque os naturais da Guiné (cerca de 60 mil residentes no Senegal) não desejavam qualquer associação com os cabos-verdianos e desse modo surgiu o M.L.G.
M.L.G. – Movimento de Libertação para a Guiné – organização constituída quase exclusivamente por manjacos. Este movimento tinha por chefe François Mendly, estudante de Direito, de descendência manjaca, nascido no Senegal e que cumpria serviço militar no Exército francês. A organização estav dividida em duas pois tinha uma filial em Coanakry (M.L.G. – Conakry) e uma outra delegação, embora rudimentar, em Bissau (M.L.G. – Bissau), segundo revelação do jornal “ Le Monde Diplomatique” , em Agosto de 1963.
U.P.L.G. - União Popular para a Libertação da Guiné dita Portuguesa. Este movimento enquadrava alguns fulas residentes no Senegal.
R.D.A.L. – Reagrupamento Democrático Africano para a Libertação da Guiné dita Portuguesa. Esta organização integrava os mandigas existentes no Senegal.
U.P.G. – União das Populações da Guiné dita Portuguesa. Esta associação apareceu depois da dissolução do M.L.G.C. e tinha uma secção formada por naturais da Guiné, em Kolda, província senegalesa do Casamansa.
U.G.G. – União Geral dos Trabalhadores Guineenses – de carácter sindicalista com uma secção do P.A.I.G.C..
U.N.G.P. Alguns elementos do M.L.G. – Bissau e do U.P.G. aderiram ao U.N.G.P., mas o “comité” da Organização da Unidade Africana considerou-o como movimento que efectivamente não combatiam a presença portuguesa. Após a decisão da O.U.A., a U.N.G.P. viu decair a sua importância.
Alguns daqueles movimentos não chegaram a lutar (a M.A.C., o F.R.A.I.N. e o C.O.N.C.P.), tendo ficado o P.A.I.G.C. por dispor de maior força na Guiné, fundado em 1956, chefiado por Amílcar Cabral.

terça-feira, 23 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

2 GUINÉ

Os nativos da Guiné.

Os principais povos autóctones da Guiné, seguindo a ordem alfabética, são:
· Baiotes,
· Balantas (propriamente ditos, manes de Naga, bravos, de fora e cunantes),
Banhuns,
· Biafades,
· Bijagós,
· Brames ou macanhas,
· Cassangas,
· Felupes,
· Fulas,
· Mandingas,
· Majacos,
· Nalus
· Papeis.
Segundo Teixeira da Mota (Monografias dos Territórios do Ultramar» (apud, V.M.1971), aponta as seguintes minorias étnicas: bagas, bambarrãs, cobianas, conháguis, jacancas, jalocas, landumãs, pajandicas, quissincas, saracolés, sosos, tandas, timenés, Tomás, torancas e uassoloncas.
De acordo com o censo de 1960 (editado pela Agência-Geral do Ultramar), a população total era de 521 336 habitantes, dos quais 512 229 constituíam a população residente. A densidade média era de 15 habitantes por km2; 30 por cento da população negra constituída por balantas, 20 por cento de população fulas, 14 por cento de manjacos, 12 por cento por mandigas e 7 por cento de papeis. Os restantes 16,5 por cento pelos outros agrupamentos.
Segundo um estudo de Basil Davison « Revolution en Afrique», a população africana da Guiné andava a volta de 800 000 habitantes e dividia-se em cinco grandes grupos, possuindo cada um a sua própria língua, tradições e sentido da sua própria etnia. Deste modo, assinala a seguinte distribuição:
· Balantas – 250 mil;
· Manjacos – 140 mil;
· Fulas – 100 mil;
· Mandingas – 80 mil;
· Papeis – 50 mil;
· Brames – 35 mil;
· Felupes – 15 mil;
· Beafadas, bairotes, cassangas, saracolés, balantas-manés, pajandincas, etc, cerca de 115 – mil.

Esta «encruzilhada de civilizações» parece reflectir o número de organizações que surgem na luta subversiva contra a soberania portuguesa naquele território, embora as suas motivações não se coadunem com essa dispersão, pelo menos inicial. Como escreve John P. Can na sua obra A Marinha em África “Não há nada de simples acerca da Guiné desde o período da descoberta pelos portugueses (Nuno Tristão, 1446) até à condução da campanha de contra-subversão entre Janeiro de 1963 a Abril de 1974”
A história da Guiné é muitas vezes referida como um refúgio para os povos dos Estados vizinhos que ao longo dos séculos foram expulsos das suas terras. São essas migrações que deram origem a uma população que se fixou ao longo da costa de larga reentrância entre os pântanos e os mares. Quando os portugueses lá chegaram encontraram esse mosaico étnico nas zonas costeiras. A sua penetração para o interior era complicada e apenas alguns aventureiros brancos, comerciantes ou mestiços se arriscavam. O território foi chamado Rios da Guiné e do Cabo Verde, sem referência ao seu interior.
O comércio que se fazia ao longo da Costa e Golfo da Guiné era principalmente o da pimenta, marfim, ouro e escravos. Durante séculos, o volume de tais mercadorias deu origem a várias denominações: a pimenta era conhecida como “sementes do paraíso”, a Costa do Marfim, a Costa do Ouro e a Costa dos Escravos. Porém, no decurso do tempo apareceram outros concorrentes como: os espanhóis, dinamarqueses, holandeses, franceses, ingleses e, por fim, os alemães que reduziram os espaços territoriais das possessões portuguesas e, em 1886, a Guiné ficou reduzida aos limites actuais ( Apu John P. Can, op, cit p. 170, Convention de Délemitation, 12 May 1886, Paris).
Em 1663 foi estabelecida a primeira autoridade no território, em Cacheu, sob a forma de capitania - mor. Bissau foi estabelecida em 1692.
A Guiné foi elevada ao estatuto de distrito na dependência de Cabo Verde em 1835 com a nomeação do célebre governador Honório Pereira Barreto em 1837. A Guiné, do ponto de vista económico tinha pouco interesse para além do comércio de escravos até finais do século XIX. Portugal abolira a escravatura em 1869 e em relação a todo o seu império em 1875. Em Cabo Verde o governador Honório Barreto negociava acordos com os chefes locais e também dirigia um negócio de escravatura da família com a sua mãe, a poderosa Rosa do Cacheu – Rosa de Carvalho de Alvarenga -, acusada de prolongar o tráfego de escravos na Guiné. A violência na Guiné é manifesta. Durante quase um século, no período de 1841 a 1936 os portugueses estiveram envolvidos em mais de oitenta campanhas, expedições e operações…
Em 1842 a Guiné é dividida em dois distritos: Cacheu e Bissau, embora subordinados a Cabo Verde.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

1. GUINÉ
A antiga província da Guiné fica situada na costa ocidental africana entre 12graus 20´ e 10 graus 56´, entre o cabo Roxo e o rio Cagete, ocupando uma área de 31 800 quilómetros quadrados dos quais 28 mil estão, permanentemente, emersos. Frente à costa estende-se um cordão litoral e em pleno oceano há um grande número de pequenas ilhas e ilhotas: o arquipélago de Bijagós. Nos séculos XV e XVI, a Guiné estendia-se desde a fronteira Norte no Rio do Ouro (hoje Sahara Ocidental) a fronteira Sul no cabo de Santa Catarina, a norte do Rio Zaire.
A zona continental é uma região baixa, invadida pela água do mar que, através de largos estuários penetra profundamente para o interior. Apesar da pequenez do território, distinguem-se duas zonas bem diferenciadas: a do litoral e a do interior. No litoral ainda se destrinça entre as ilhas e a terra firme. Esta, baixa e monótona, é uma larga planície aluvial, cortada por muitos e largos rios, onde a maré penetra algumas dezenas de quilómetros.
O clima não é uniforme em todo o território. O litoral está sujeito a um autêntico clima de monção, chegando a humidade relativa da atmosfera a atingir quase o ponto de saturação, enquanto no interior surge, principalmente, um clima de savana, onde a humidade, mesmo nos meses de chuva é menor.
A Guiné é uma «encruzilhada de civilizações» (definição do prof. Orlado Ribeiro, Apud revista V.M.19-11-1971), onde, em 1960, numa área de 28 mil quilómetros quadrados viviam 519 200 habitantes, repartidos por uma quinzena de povos, cada qual falando a sua língua, construindo e agrupando as casas e organizando o espaço à sua volta de forma diferente.
As lutas tribais, a sublevação dos régulos e a ocupação restrita terão sido os principais factores que influíram para que a pacificação da Guiné só se verificasse no século XX e tardasse na delimitação das fronteiras. Até 1879, a Guiné dependia, administrativamente, de Cabo Verde, pois só nesse ano foi criada a «província autónoma da Guiné», com a capital em Bolama.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Angola
Companhia de Fuzileiros nº 1 (CF1)

Foto retirada do Livro II de Sanches de Baêna – Fuzileiros/Crónica dos Feitos de Angola

Em 31 de Maio de 1962 chega a Luanda a Companhia de Fuzileiros nº 1 (CF1), comandada pelo 1º tenente Joaquim Alberto Pires Dias, os 2ºs tenentes António Luciano de Sá Homem de Gouveia e Eduardo Augusto de Vilhena Magalhães Crespo e quatro subtenentes FZE da Reserva Naval: José Máximo Simões de Brito e Castro, Humberto Jorge Santana, Manuel Garrido Pais da Silva e José de Almeida e Costa Cardoso Moniz. Um dos oficiais era médico. Na classe de Sargentos:
Acácio Miguel da Conceição (1º Sarg FZ);
Celestino de Freitas Moreira (2Sarg L);
José da Costa (2Sar C);
Júlio Pardal Troeiro (2Sar FZ);
Manuel Marques Gaspar (2 Sar FZ);
Manuel A. de F. Garrido Silva (2 Sar C);
Francisco Beirante Roldão (2 Sarg FZ);
Salvador da Assunção Caldeira (2Sar FZ),
Valentim Carlos de Oliveira (2Sarg H).

Na classe de praças, 9 cabos, 12 marinheiros e 106 Grumetes, se não me enganei a contar a tabela fornecida pelo Livro de Sanches de Baena.
Neste Período, o general Deslandes, Comandante-Chefe expressa a vontade de intensificar a vigilância fronteiriça através da construção de uma via de comunicação: rede terrestre associada as fluviais ao longo dos rios com o objectivo de barrar a penetração dos grupos de gurreilheiros vindos do Congo. Uma das preocupações das autoridades portuguesas quando a guerra de subversão rebentou no Norte de Angola foi evitar o êxodo das populações da região do Uije, principalmente as acções intimidatórias por parte dos insurrectos. Para o efeito, era preciso criar condições a milhares de nativos que se apresentavam as autoridades nacionais, ou seja: instalá-los e dar-lhes condições de vida e de trabalho. Esta preocupação levou o Governador do Distrito de Uije, à época tenente-coronel Rebocho Vaz, a promulgar um diploma legislativo (Maio/62), criando em Angola quatro zonas-pilotos, tendo assim fundado 55 novas povoações na subzona a norte e 78 na sub-zona a sul do distrito de Uije. Cada uma das povoações com avenidas e arruamentos transversais e com divisão de espaços em talhões destinados a habitação do agregado populacional. A povoação era constituída por um centro cívico, uma escola, um posto sanitário, uma capela, cooperativa e loja.
O Comando Naval, então comodoro Mexia Salema, apresentou um plano designado como Dispositivo Detentor da Frente Fluvial do Zaire (DDZ) que apontava para a instação de três postos fixos entre Nóqui e a Pedra do Feitiço, depois acrescido de um outro na ilha de Quissanga. A concretização deste dispositivo compreendia algumas lanchas de 30 toneladas e outras ligeiras.
Em Julho/1962 havia alguns pelotões da CF1 instalados num acampamento improvisado com panos de tenda e o apoio de soldados nativos da fragata Pacheco Pereira, dos navios-patrulha Príncipe, Santiago, Madeira, Sal, São Vicente e São Tomé que empenhadamente levaram a cabo a árdua tarefa da construção dos postos do Puelo, Macala e Tridente.

O 3º Pelotão da CF1 constrói o posto do “Puelo”, o 2º Pelotão o da “Macala” e o 1º Pelotão encarregou-se da construção do “Tridente”.

A este propósito, todos os Destacamentos de Fuzileiros que passaram por estes postos acrescentaram algo mais, melhorando as condições de permanência neles. A testemunhá-lo, dá-nos conta a inscrição e deixada no Posto da Macala pelo DFE4 (1963-65), inspirada de forma poética:

A Companhia nº 1
Este posto começou
o 1º Destacamento
a obra continuou

O 3º com afinco
Para que nada faltasse
Fez com o que o 4º e o 5º
O trabalho não parasse

O 6º vendo isto
A obra não quis parar
Para lembrar aos que vêm
O valo do trabalhar

E tu que vens e não sabes
O trabalho que isto deu
Continua e não pares
E faz versos como eu.
Fernando Caseira (Póvoa)
A outra parte do CF1 permaneceu em Luanda assegurando a protecção à Estação Rádio Naval de Belas. Os pelotões rodavam entre si periodicamente. Alé da construção dos Postos, o pessoal da CF1 fazia patrulhamento no rio e em terra. Usavam os botes de borracha Zodiac e os motores Johnson e Envirude.
Os cais dos postos fluviais construídos no rio Zaire foram colocados os nomes dos seus navios: Cais Madeira, Cais Santiago e por aí fora…
Os postos foram concluídos até ao final de 1962:
· Posto do Puelo – 15 de Agosto;
· Posto da Macala – 30 de Setembro;
· Posto da Quissanga – 6 de Dezembro;
· Posto do Tridente – 22 de Dezembro.
A Pedra do Feitiço – base fluvial de patrulha -, até então guanecida apenas com efectivos do Exército, foi também construída em Dezembro.
Após a construção dos postos, a CF1 regressa a Luanda, sendo substituída no Zaire pelos Destacamentos de Fuzileiros Especiais.

“Ferrolho”, Plano de Operações. Esta foi a designação dada para este Plano que consistia em atribuir uma força de guarnição e intervenção a cada um dos postos: força de base, de assalto e reforço, com uma ou duas secções de DFE e dois botes de borracha (pneumáticos), um grupo de patrulhas, inicialmente formado por duas lanchas de 30 toneladas (idem, Sanches de Baêna, p. 40 ss) .
O DFE 3 chega a Luanda em 29 de Agosto de 1962. É composta por três oficiais mas não trazia Comandante. A rotação entre oficiais é feita em Angola. O subtenente mais antigo, Abrantes Serra, é destacado para o DFE1 por troca com o Imediato deste – 1º tenente Luís Fernando Camós de Oliveira Rego, que passou a exercer o comando do DFE3.

Formação inicial do DFE3:
2SAR FZE – Manuel Lúcio Venâncio;
2 SAR FZE – Mário José Batista Claudino.
Praças: 13 cabos FZE, 34 marinheiros FZE, 24 Grumetes.

sábado, 6 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

A chegada dos Fuzileiros ao Zaire

Vila de Santo António do Zaire e aquartelamento à direita (1963)

Após a chegada de lanchas de trinta toneladas, o Comando Naval de Angola esperava pelo primeiro Destacamento de Fuzileiros Especiais, DFE1.
Porto de Santo António do Zaire e lancha de Fiscalização no Rio Zaire
Pensou-se ainda que os fuzileiros poderiam potencialmente substituir o pessoal do Exército em Ambriz, Ambrizete, Santo António do Zaire e Nóqui, num total de 1452 efectivos. Um pensamento irrealista na medida que um Destacamento comporta 75 homens! Realista era os fuzileiros complementarem as forças do exército numa atitude menos estática e mais ágil de ofensiva nas zonas fluviais.
A ideia inicial era que o Destacamento acabado de chegar da Metrópole se estabelecesse numa base próxima da zona de operações de modo a familiarizar-se com o ambiente operacional. O período de adaptação a África constituía parte importante do processo de aclimatização. Foi o que aconteceu com o DFE1 quando chegou a Luanda em meados de Novembro de 1961, tendo embarcado logo na semana seguinte nas fragatas Diogo Gomes e Pero Escobar para efectuar exercícios a sul, com desembarques em Moçâmedes, Benguela e Novo Redondo, já referido aqui em Post anterior, acrescido dos elogios da população relatados por um jornalista. O DFE1 participa também em operações com o exército, na região de Buela, área demarcada de S. Salvador, Tombôco e o rio M´Pozo. Depois seguiu para norte de Luanda realizando patrulhamentos no rio Zaire, margens do rio Chiloango e do Lago de Massabi em Cabinda.
O DFE1 operava de vez em quando com unidades do exército ou armada em emboscadas e ataques de surpresa coordenados com diversos planos. Isso aconteceu em Ambriz e Ambrizete e à volta das sanzalas de Caluca e Avé Maria, próximo do rio Mebridgede ou M´bridge a sul de S. Salvador, região dos Dembos.
A partir dos inícios de 1962 o DFE1 operava com certa regularidade e quase -permanência com as forças Pára-quedistas em Nova Caipenga, cerca de 150 Km de S. Salvador, no rio Loge. Com as unidades do Exército nas planícies do Congo Yella, a sul e a oeste da Pedra do Feitiço no Zaire. O patrulhamento do rio pelas áreas da Ilha do Bullicoco, Quissanga, Lucala, Quibembe, Chichianga, Ponta Puelo e Lué Pequeno próximo de Nóqui. Estas acções ou parte delas implicava também a coordenação com as Lanchas de Fiscalização que, a partir de Fevereiro de 1962 foram recebidas mais novas lanchas de 30 toneladas: Altair, Rigel e Regulus.
O reforço da vigilância do rio Zaire era fundamental para estabelecer uma forte barreira às infiltrações dos insurrectos a partir da fronteira fluvial do Congo.
Na Vila de Santo António do Zaire, o DFE1, nos inícios de 1961 estava aquartelado numa casa (CUF) de dois andares em que o rés-do-chão era ocupado por armazéns e no 1º andar alojava-se a guarnição dos fuzileiros em beliches triplos com 23 homens em cada divisão.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Angola-II
Angola foi o único território africano onde decorreram acções militares em 1961. No entanto, foram tomadas medidas de precaução em relação à Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Quanto a Goa, Damão e Diu, ainda se encontrava no domínio Português. A sua queda ocorreu com a invasão e ocupação pela União Indiana em 18 de Dezembro. Daí, o maior esforço português direccionava-se para o território de Angola. Os acontecimentos de 4 de Fevereiro de 1960 (Baixa do Cassange. Greve dos agricultores de algodão e repressão) e depois a tentativa de Golpe de Estado pelo General Botelho Moniz, conhecido pela “Abrilada” vem acelerar o reforço militar para Angola com mobilizações das forças armadas em força, sobretudo do Exército. Do conjunto de efectivos do exército existente em 1960 (Angola, Guiné e Moçambique) passou para cerca de 50.000, em finais de 1961.
A primeira fase de intervenção militar das forças portuguesas em Angola era a recuperação de zonas dominadas pela UPA no Norte de Angola em 1961.
A necessidade da presença militar em todo o espaço Angola conduziu a adopção da organização de “quadrícula” até ao final da guerra. Este dispositivo dividia-se em secções de responsabilidade das unidades de manobra e viria a condicionar a forma de actuar das tropas portuguesas porque a importância conferida ao domínio do terreno as colocava num atitude defensiva, com muitos meios dispersos, presas a um sistema logístico pesado e com poucos meios para a realização de operações ofensivas rápidas e eficazes. As medidas de quadrícula, para além da preparação de natureza técnico-táctico que a experiência aconselhava, havia que contar com a missão de apoio psicossocial prestado às populações autóctones como forma de combate ideológico e político contra os guerrilheiros. Esta missão não se coadunava com as forças dos Quadros Permanentes do Exército que não estavam vocacionados para este tipo de missão: acção de guerra e acção social. Tiveram, naturalmente, de se preparem minimamente através de cursos rápidos de formação neste área ministrados à época. Da parte do Governo de Lisboa, tentou resolver a questão com a atribuição de cargos de Governador-geral e de Comandante em chefe numa mesma pessoa com a patente de oficial general. É assim que em Julho de 1961 é nomeado governador-geral e comandante-chefe o General da Força Aérea Venâncio Deslandes. Em Moçambique o Almirante Sarmento Rodrigues e, mais tarde, na Guiné, o brigadeiro António Spínola como novo Governador-Geral e Comandante-Chefe o qual viria a alterar a forma de emprego operacional dos Fuzileiros defendendo e pondo em prática o dispositivo da contrapenetração. Segundo esse dispositivo, os Fuzileiros passaram na prática a ser utilizados nas áreas que estavam destinadas quase como “tropa de quadrícula”. A relação entre os Fuzileiros o e Governador-Geral e Comandante-Chefe, não foram as melhores.
António Spínola, conforme vem publicado na III Edição Correio da Manhã (As Grandes Operações da Guerra Colonial, Angola 1961 a 1964 – Baptismo de fogo), oferecera-se como voluntário para comandar o Batalhão 345 para Angola, à data com 51 anos de idade e o posto de tenente-coronel. A sua situação de militar no Regimento de Lanceiros era acumulada com o cargo na administração da Siderurgia Nacional onde fora colocado pelo ministro da Presidência João Costa Leite em representação do Instituto de Conservas de Peixe que detinha uma quota de dez por cento do capital. Entre António Spínola e o industrial, proprietário, António Champalimaud, havia um desentendimento tal que este não foi ao seu jantar de despedida para África, em 16 de Novembro de 1961.
O Batalhão 345 era composto por 31 oficiais, 70 sargentos e 538 praças. É em São Salvador, junto à fronteira Norte, que uma Companhia sai em patrulha, comandada por Spínola. Quando a maioria já dormia, são atacados e é graças ao soldado António Cáceres que ao conseguir enfiar-lhe o capacete, no clarão da noite, salva a vida ao Comandante Spínola. É que no instante em que este é colocado uma bala atinge-o e resvala no ferro. O soldado foi condecorado com uma medalha de mérito.
Em relação ao Exército e ainda no final do ano de 1961 é produzida legislação a convidar os oficiais milicianos a ingressar no Quadro Permanente.