segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

MEMORANDO DFE4 - Angola 1963-65

Álvaro Elias Dionísio

APRESENTAÇÃO


Nasci na freguesia de Olho Marinho, concelho de Óbidos em 22 de Setembro de 1945 e registado com o nome de Álvaro Elias Dionísio.
Em 3 de Março de 1962, com dezasseis anos, alistei-me na Armada como 2.º grumete tendo-me sido atribuído o número 16 291. Fui incorporado no Grupo nº 2 da Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro. Fiz-me, com os demais camaradas, fuzileiro especial e integrei a formação do DFE nº 4 que foi em comissão de serviço para Angola por dois anos, no período de 1963-65. Em Janeiro de 1966 passei à disponibilidade e à reserva sem limite de tempo (DL nº 41 883, de 18-02-63) com o posto de marinheiro FZE.
Na vida civil casei, tive filhos (filhas), trabalhei três anos em Moçambique. Estudei e fiz o Curso de Direito, estágio de Advocacia e dois anos de inscrição na Ordem do Advogados.
Durante trinta e tal anos fui funcionário público, dezoito dos quais exerci o cargo dirigente (Chefe de Divisão, Director de Serviços e Vice-Presidente de uma Caixa de Previdência). Enviuvei e voltei a casar.
Apesar do corre dos anos e percurso de vida seguido, que levaram ao estabelecimento de novas amizades, tanto no campo profissional como social e familiar, a passagem pelos fuzileiros esteve sempre presente na minha memória, até hoje! – Foi um acontecimento ímpar que ficou para o resto da vida.
A realização do 4º Aniversário do Destacamento nº 4 de Fuzileiros Especiais, em 5 de Março de 2005, o reencontro com os antigos camaradas e a homenagem prestada ao Comandante Pascoal Rodrigues e aos camaradas Ludgero, Claudino e Santinhos, propugnada pelo Carlos Ferreira / Almada, despertou-me para a concretização deste trabalho.
Não pretendo apresentar nenhum tratado científico onde o rigor histórico dos factos seja uma verdade fundada em provas materiais autênticas; ou em depoimentos sobre factos de interpretação unívoca. Nada disso! – É apenas o testemunho de alguém que teve o privilégio de viver a melhor parte da sua juventude nos Fuzileiros.
O nome de Memorando do DFE nº 4 – Angola (1963-65), foi o título que me pareceu sugestivo. Falar sobre este período de vida é uma maneira de lembrar os meus antigos camaradas, perpetuar a sua memória e testemunhar a importância das suas amizades. A forma inicialmente escolhida nasceu com a dificuldade de identificação das caras e dos rostos no referido reencontro. Surgiram imagens novas e diferentes. Quarenta anos passados provocaram mudanças fisionómicas acentuadas em muitos de nós - o meu caso é um exemplo – tornando difícil a identificação ou relação com o passado. Para evitar dúvidas ou confusões, nada melhor do que dispor de fotografias da época. Assim, relacionando as fotografias antigas com as mais recentes, ou com próprias pessoas, chegamos lá mais facilmente...
Em todo o processo de recolha de fotografias, de identificação do pessoal e de algumas histórias, houve o contributo de camaradas que passarei a mencionar: José Moreira Alves, Agostinho Maduro, Vitorino Santos, Júlio Santos – com fotos inéditas a cores - e Fernando Caseira (Póvoa) que conseguiu fornecer uma lista completa dos nomes que integraram a Formação do DFE nº4 e ainda uma lista com nomes e datas de embarques de avião para Angola!
Gostaria de poder falar individualmente de todos um pouco mas isso não foi possível. Como sabemos, o Destacamento foi dividido e distribuído em Secções pelos Postos do Rio Zaire. Só tive conhecimento de alguns factos que me narraram e memória encarregou-se de apagar outros...
Neste Memorando é dado particular relevância ao Comandante Pascoal Rodrigues, não por ter sido o Comandante do nosso Destacamento, o que por si só constituiria motivo de anotação do facto, mas por razões mais profundas: de justiça! – Mesmo sem ela, e durante todos estes anos, continua a ser a aquilo que sempre foi: Um fuzileiro! - Como ele já teve a oportunidade de dizer: Dos fuzileiros, na verdade eu não sei quando saí. Talvez nunca, pois continuo me sentindo um Fuzileiro até hoje...


Capítulo I
Introdução e enquadramento
Os amigos nunca são demais e nunca foram tão importantes na minha vida como no momento presente. Mário Quintana - um grande poeta brasileiro, já falecido – a propósito de amigos, escreveu:
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos...Alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Foi desta forma que iniciei o livro que escrevi, intitulado MEMORANDO – Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 4 – Angola 1963-65. Como o livro não é comercializável e foi distribuído gratuitamente ao pessoal do DFE4, pelo mecenas Almada, pensei que poderia iniciar este blogo com a sua divulgação. Se não na totalidade pelo menos em parte.
A chama avivada pelo primeiro encontro do 4.º DFE, em Vale de Zebro, Corpo de Fuzileiros da Armada, em 5 de Março de 2005, e a homenagem prestada pela Escola ao Comandante Pascoal Rodrigues e aos seus companheiros, Ludgero Silva Piçarra, Mário Claudino e João Santinhos, veio possibilitar a comunicação entre muitos dos camaradas. Os abraços e os afectos trocados na ocasião foram momentos inesquecíveis partilhados por todos. A ponte entre nós, na medida do possível, restabeleceu-se graças à iniciativa e perseverança do Carlos Ferreira (o Almada), a colaboração prestada pelo Alves, e a participação activa do Corpo de Fuzileiros.
Explicar a razão desta amizade entre camaradas, passados 40 anos, período decorrido entre 1965 a 2005, não sei! – Sei apenas que ela existe e é muito reconfortante sentir isso. Muitos de nós, terminaram a sua carreira militar logo após o regresso de Angola, em 1965, e outros foram passando à reserva ou à licença, aos poucos; uns quantos, número considerável, fizeram o seu percurso de fuzileiros com várias Comissões no Ultramar – Angola, Guiné e Moçambique - com assinalável sucesso na carreira sob todos os pontos de vista.

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