I-Nós, os Portugueses
Penso que todos os portugueses que nasceram e viveram em África conservam ainda muita saudade e lembranças dela. Esse profundo enraizamento marca toda a diferença dos portugueses em relação a outros colonizadores europeus – Ingleses, franceses, alemães, holandeses, italianos, espanhóis…
Como escreve o historiador francês Yves Léonard “ Os portugueses devem provavelmente a sua fama de excelentes colonizadores à sua rara faculdade de adaptação. Com efeito, têm uma grande facilidade para se aclimatarem sob os céus mais inóspitos e compreenderem rapidamente a mentalidade, a vida, os costumes e as actividades dos povos que lhes são estranhos. Quando o Português se lança na exploração aventurosa ou se instala no comércio, não organiza a sua vida à parte. Entra na vida, mistura-se nela tal como a encontra e tal qual ela se oferece, sem contudo abandonar o seu próprio cabedal de conhecimentos, de hábitos e de práticas. A sua obra não é seguramente, a do homem que passa, olha e segue o seu caminho, nem a do explorador que procura febrilmente riquezas fáceis e em seguida dobra a sua tenda para se afastar” ( Garnier, 1952: 146-147).
Salazar - que nunca pôs os pés em África, Ásia ou Brasil - só passou a interessar-se pela questão colonial alguns meses depois de ter assumido a pasta da Finanças como Ministro, em Abril de 1928. Aliou-se então aos defensores intransigentes da integridade territorial das colónias portuguesas e da soberania de Portugal sobre esses territórios. Esta viragem, de um homem de origem rural, do campo, sem vocação militar, desconfiado e manhoso, mais preocupado com o equilíbrio orçamental e a crise do dinheiro, em 1929 e da necessidade de saneamento das finanças públicas, sobretudo de África e particularmente em Angola, foi objecto de análise histórica. Parece que o impulso dado à volta de figuras como António Enes e Mouzinho de Albuquerque, da geração de 1895, o terão influenciado.
A Lei da Separação da Igreja e do Estado de 1911, terá por certo reaberto a questão religiosa e suscitado a hostilidade do episcopado português. Em relação às missões católicas portuguesas do ultramar, o prejuízo com a sua “supressão” seria ainda maior. Havia pois que assegurar a sua existência e dilatar a influência no domínio das colónias.
As medidas adoptadas por João Belo iam nesse sentido, isto é, no sentido desejado pela Igreja. Os decretos de 13 e 24 de Outubro de 1926 reconheciam o papel importante desempenhado pelas missões católicas para «portugalizar» as colónia e combater a influência das missões estrangeiras e protestantes.
Salazar acaba por interiorizar os descobrimentos do século XV e o seu glorioso passado marítimo, assumindo a sua herança, conforme o discurso de 17 de Maio de 1931: « Portugal é um velho país livre, homogéneo na sua formação, de fronteiras imutáveis, quase desde que se constituiu em Estado independente, pacífico na história acidentada da Europa, mas afadigoso no mar, para onde se desenvolveu a sua força de expansão, descobrindo novos territórios, que povoou, colonizou, civilizou, incorporou no seu próprio ser nacional. Somos filhos desse passado, e não por mera deferência pela vontade inequívoca de nossos pais, mas pela clara consciência do serviço que prestamos à paz da Europa e à civilização no mundo, nós afirmamos serenamente a vontade de sermos presente no presente e no futuro o que sempre fomos no passado – livres, independentes, colonizadores.»
Como escreve o historiador francês Yves Léonard “ Os portugueses devem provavelmente a sua fama de excelentes colonizadores à sua rara faculdade de adaptação. Com efeito, têm uma grande facilidade para se aclimatarem sob os céus mais inóspitos e compreenderem rapidamente a mentalidade, a vida, os costumes e as actividades dos povos que lhes são estranhos. Quando o Português se lança na exploração aventurosa ou se instala no comércio, não organiza a sua vida à parte. Entra na vida, mistura-se nela tal como a encontra e tal qual ela se oferece, sem contudo abandonar o seu próprio cabedal de conhecimentos, de hábitos e de práticas. A sua obra não é seguramente, a do homem que passa, olha e segue o seu caminho, nem a do explorador que procura febrilmente riquezas fáceis e em seguida dobra a sua tenda para se afastar” ( Garnier, 1952: 146-147).
Salazar - que nunca pôs os pés em África, Ásia ou Brasil - só passou a interessar-se pela questão colonial alguns meses depois de ter assumido a pasta da Finanças como Ministro, em Abril de 1928. Aliou-se então aos defensores intransigentes da integridade territorial das colónias portuguesas e da soberania de Portugal sobre esses territórios. Esta viragem, de um homem de origem rural, do campo, sem vocação militar, desconfiado e manhoso, mais preocupado com o equilíbrio orçamental e a crise do dinheiro, em 1929 e da necessidade de saneamento das finanças públicas, sobretudo de África e particularmente em Angola, foi objecto de análise histórica. Parece que o impulso dado à volta de figuras como António Enes e Mouzinho de Albuquerque, da geração de 1895, o terão influenciado.
A Lei da Separação da Igreja e do Estado de 1911, terá por certo reaberto a questão religiosa e suscitado a hostilidade do episcopado português. Em relação às missões católicas portuguesas do ultramar, o prejuízo com a sua “supressão” seria ainda maior. Havia pois que assegurar a sua existência e dilatar a influência no domínio das colónias.
As medidas adoptadas por João Belo iam nesse sentido, isto é, no sentido desejado pela Igreja. Os decretos de 13 e 24 de Outubro de 1926 reconheciam o papel importante desempenhado pelas missões católicas para «portugalizar» as colónia e combater a influência das missões estrangeiras e protestantes.
Salazar acaba por interiorizar os descobrimentos do século XV e o seu glorioso passado marítimo, assumindo a sua herança, conforme o discurso de 17 de Maio de 1931: « Portugal é um velho país livre, homogéneo na sua formação, de fronteiras imutáveis, quase desde que se constituiu em Estado independente, pacífico na história acidentada da Europa, mas afadigoso no mar, para onde se desenvolveu a sua força de expansão, descobrindo novos territórios, que povoou, colonizou, civilizou, incorporou no seu próprio ser nacional. Somos filhos desse passado, e não por mera deferência pela vontade inequívoca de nossos pais, mas pela clara consciência do serviço que prestamos à paz da Europa e à civilização no mundo, nós afirmamos serenamente a vontade de sermos presente no presente e no futuro o que sempre fomos no passado – livres, independentes, colonizadores.»
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