África e a opinião pública portuguesa
Os ecos de África, via europeia, influenciam a opinião pública portuguesa. São as notícias das viagens de exploração que se multiplicam por África: Livingstone, Stanley e Cameron, rondavam nas próximas das possessões de Angola e Moçambique. Como reacção a esse impulso externo, de ameaça latente ou pressentida, Portugal fez-se representar no Congresso Internacional de Geografia de Paris, no verão de 1875. Nessa mesma ocasião é fundada a Sociedade Portuguesa de Geografia de Lisboa e a Comissão Permanente de Geografia, cujos objectivos, de acordo com os estatutos, eram os de fazer «o estudo, a discussão, o ensino, as investigações e as explorações científicas de geografia nos seus diversos ramos, princípios, relações, descobertas, progressos e aplicações» com particular incidência nos «factos e documentos relativos à Nação portuguesa» (…). A Comissão Central Permanente era uma instituição oficial, da iniciativa do ministro Andrade Corvo que terá, com José Júlio Rodrigues (delegado ao congresso de Geografia de Paris), anunciado o propósito de fundar em Portugal uma «repartição de geografia e história». A Sociedade de Geografia tem carácter particular e deve-se à vontade de Luciano Cordeiro que, juntamente com Rodrigo Pequito, Cândido de Figueiredo, João Cândido de Morais e Emiliano Betencourt integraram a comissão instaladora. Em 31 de Dezembro de 1875, são aprovados os estatutos.
Ambas as instituições (Comissão Central Permanente – oficial e Sociedade de Geografia, de cariz particular), na sua fase inicial, fixaram como objectivo prioritário a organização de expedições científicas em África.
Por decreto de 11 de Março de 1877, foi determinado a realização de uma expedição de carácter nacional destinada a «explorar, no interesse da ciência e da civilização, os territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique e a estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze».
Se havia unanimidade quanto a urgência da iniciativa da expedição já quanto aos objectivos a divergência era manifesta. Luciano Cordeiro debatia-se pela exploração de África Central: estudo sobre as origens do Zaire e do Zambeze e as relações com os lagos do interior para efectuar a ligação entre Angola e Moçambique. A concepção expansionista do império estava subjacente: a formação de um bloco compacto do litoral angolano à contracosta. Por outro lado, a realização de um feito que ombreasse com as grandes viagens de Stanley e de Cameron. A outra corrente, defendia a concentração de esforços numa área reduzida, limítrofe já sob a soberania de Portugal, visando a obtenção de resultados precisos e concretos, de ordem geográfica e económica. Era a opinião de Júlio Rodrigues na Comissão Permanente, sendo também a tese que melhor se ajustava a política de Andrade Corvo que preferia a consolidação das posições já adquiridas.
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