quinta-feira, 4 de março de 2010

A Marinha e os Fuzileiros em África

Angola-II
Angola foi o único território africano onde decorreram acções militares em 1961. No entanto, foram tomadas medidas de precaução em relação à Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Quanto a Goa, Damão e Diu, ainda se encontrava no domínio Português. A sua queda ocorreu com a invasão e ocupação pela União Indiana em 18 de Dezembro. Daí, o maior esforço português direccionava-se para o território de Angola. Os acontecimentos de 4 de Fevereiro de 1960 (Baixa do Cassange. Greve dos agricultores de algodão e repressão) e depois a tentativa de Golpe de Estado pelo General Botelho Moniz, conhecido pela “Abrilada” vem acelerar o reforço militar para Angola com mobilizações das forças armadas em força, sobretudo do Exército. Do conjunto de efectivos do exército existente em 1960 (Angola, Guiné e Moçambique) passou para cerca de 50.000, em finais de 1961.
A primeira fase de intervenção militar das forças portuguesas em Angola era a recuperação de zonas dominadas pela UPA no Norte de Angola em 1961.
A necessidade da presença militar em todo o espaço Angola conduziu a adopção da organização de “quadrícula” até ao final da guerra. Este dispositivo dividia-se em secções de responsabilidade das unidades de manobra e viria a condicionar a forma de actuar das tropas portuguesas porque a importância conferida ao domínio do terreno as colocava num atitude defensiva, com muitos meios dispersos, presas a um sistema logístico pesado e com poucos meios para a realização de operações ofensivas rápidas e eficazes. As medidas de quadrícula, para além da preparação de natureza técnico-táctico que a experiência aconselhava, havia que contar com a missão de apoio psicossocial prestado às populações autóctones como forma de combate ideológico e político contra os guerrilheiros. Esta missão não se coadunava com as forças dos Quadros Permanentes do Exército que não estavam vocacionados para este tipo de missão: acção de guerra e acção social. Tiveram, naturalmente, de se preparem minimamente através de cursos rápidos de formação neste área ministrados à época. Da parte do Governo de Lisboa, tentou resolver a questão com a atribuição de cargos de Governador-geral e de Comandante em chefe numa mesma pessoa com a patente de oficial general. É assim que em Julho de 1961 é nomeado governador-geral e comandante-chefe o General da Força Aérea Venâncio Deslandes. Em Moçambique o Almirante Sarmento Rodrigues e, mais tarde, na Guiné, o brigadeiro António Spínola como novo Governador-Geral e Comandante-Chefe o qual viria a alterar a forma de emprego operacional dos Fuzileiros defendendo e pondo em prática o dispositivo da contrapenetração. Segundo esse dispositivo, os Fuzileiros passaram na prática a ser utilizados nas áreas que estavam destinadas quase como “tropa de quadrícula”. A relação entre os Fuzileiros o e Governador-Geral e Comandante-Chefe, não foram as melhores.
António Spínola, conforme vem publicado na III Edição Correio da Manhã (As Grandes Operações da Guerra Colonial, Angola 1961 a 1964 – Baptismo de fogo), oferecera-se como voluntário para comandar o Batalhão 345 para Angola, à data com 51 anos de idade e o posto de tenente-coronel. A sua situação de militar no Regimento de Lanceiros era acumulada com o cargo na administração da Siderurgia Nacional onde fora colocado pelo ministro da Presidência João Costa Leite em representação do Instituto de Conservas de Peixe que detinha uma quota de dez por cento do capital. Entre António Spínola e o industrial, proprietário, António Champalimaud, havia um desentendimento tal que este não foi ao seu jantar de despedida para África, em 16 de Novembro de 1961.
O Batalhão 345 era composto por 31 oficiais, 70 sargentos e 538 praças. É em São Salvador, junto à fronteira Norte, que uma Companhia sai em patrulha, comandada por Spínola. Quando a maioria já dormia, são atacados e é graças ao soldado António Cáceres que ao conseguir enfiar-lhe o capacete, no clarão da noite, salva a vida ao Comandante Spínola. É que no instante em que este é colocado uma bala atinge-o e resvala no ferro. O soldado foi condecorado com uma medalha de mérito.
Em relação ao Exército e ainda no final do ano de 1961 é produzida legislação a convidar os oficiais milicianos a ingressar no Quadro Permanente.

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