sexta-feira, 15 de maio de 2009

Colonialismo português e sua singularidade

O Luso-tropicalismo


A viagem oficial de estudo e de pesquisa que o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre efectuou durante cerca de seis meses pelas províncias portuguesas entre Agosto de 1951 e Fevereiro de 1952, a convite do Ministro do Ultramar Sarmento Rodrigues, constituiria ponto de partida para a apropriação das suas teorias pelo regime salazarista. É nesta data que é utilizada pela primeira vez a expressão “ luso-tropicalismo”.

Gilberto Freyre esteve em Macau, Timor, Ilha de São Tomé e Príncipe, seguido pelas autoridades locais e mandatado por Lisboa, visitando também a Madeira, Guiné, Cabo-Verde, São Tomé, Angola e Moçambique. Da visita a estes territórios é publicado no Brasil, em 1953 e um depois em Portugal, o livro “ Aventura e Rotina”, uma espécie de diário de viagem, tendo como subtítulo “ sugestões de uma viagem à procura das constantes portuguesas de carácter e de acção” e Um brasileiro em Terra Portuguesa. Salazar que desconhecia em parte a obra do sociólogo no verão de 1951, ia progressivamente familiarizando-se com ela.

A teoria do luso-tropicalismo, iria inspirar numerosos investigadores e universitários portugueses, entre os quais o Prof. Adriano Moreira, especialista em relações internacionais e bom conhecedor do funcionamento das Nações Unidas. Foi Professor na antiga Escola Superior Colonial, que mais tarde passou a Instituto Superior de Estudos Ultramarinos para o qual foi nomeado Director ( 1958 ). O Prof. Adriano Moreira dirigia ainda o Centro de Estudos Políticos e Sociais da Junta de Investigações, dependente do Ministério do Ultramar. Enquanto docente, Adriano Moreira desempenhou um papel importantíssimo na difusão e ensino do luso-tropicalismo.

Os fundamentos do luso-tropicalismo baseavam-se na miscigenação, fusão cultural e ausência de preconceito racista. Tratava-se de uma crença muito partilhada em Portugal à época, fundada na originalidade de uma colonização sem preconceito racial e propícia a mestiçagem. Era o papel histórico de Portugal, apresentado como missão evangelizadora: Uma Mística Luso-Cristã de Integração. Esta teoria quase é defendida nas comemorações henriquinas – V Centenário Henriquino, em 1960 – por Gilberto Freyre, enaltecendo a figura do Infante D. Henrique que “concorreu decisivamente para dar às relações de europeus com não-europeus, de brancos com povos de cor, um rumo peculiarmente luso-cristão. Esta homenagem agradava sobremaneira a Salazar que tinha o Infante D. Henrique como figura mitológica: o “sábio de Sagres” e percursor da “missão evangelizadora”. Desta forma, com cinco séculos de distância, o círculo estava praticamente fechado: Iniciado no século XV com D. Henrique, a mística luso-cristã de integração, cumpria-se com a política ultramarina de Salazar.
O Estado Novo, passou da “ mística imperial “, impulsionada por Armindo Monteiro ( 1930 ) para a “mística luso-cristã de integração”, inspirada por Gilberto Freyre ( 1960).
(Texto de apoioHistória da expansão portuguesa, volume V – Círculo dos Leitores – Direcção Francisco Bethencourt e Kirti Chaudhuri)

2 comentários:

  1. Olá Álvaro!
    Gostaria de ter um pouco de mais tempo, para poder comentar mais sobre os teus artigos, os quais são mim, bem a meu gosto. Contudo, fica ciente que os vou lendo todos até há última palavrinha. Sei que é encorajante receber-se um comentário de em vez quando, dando-nos assim a impressão de que, não se trabalha só para o boneco, como é uso o Carlos dizer. O que é bem verdade, cá a meu ver, Claro.
    Continua. Continua bem e sempre!
    Um grande abraço!
    Leiria

    ResponderEliminar
  2. Só agora é que li o teu comentário. É estimulante na verdade saber que temos à nossa volta alguém que nos lê. Tu és um exemplo e mais ainda: Também escreves - e bem - e estás atento a tudo o que se passa.
    Um grande abraço para ti, Artur

    ResponderEliminar