quinta-feira, 5 de março de 2009

E depois do meu regresso de Angola de 1965

Agostinho Maduro

Não conheci ninguém que viva tão intensamente os tempos de fuzileiros ou se lembre tanto de histórias e episódios passados com camaradas como o Agostinho Maduro. Somos amigos desde os tempos da recruta (Março/1962) e essa amizade tem perdurado para a vida mesmo depois de 40 anos sem quaisquer contactos. Mesmo assim, nunca me esqueci dele e durante vários anos manifestei à minha mulher vontade em ir de férias à Ilha Terceira, principalmente porque queria encontrar lá um amigo e gostava de o ver. Infelizmente, esse sonho não se concretizou, a minha mulher faleceu e o Agostinho, entretanto também tinha emigrado para o Canadá, onde reside actualmente e há vários anos.
O Agostinho Maduro é daqueles camaradas que se é fácil de gostar e toda a gente gosta dele. É um indivíduo ponderado, honesto, nobre sentimentos e algo sábio até…É um amigo com quem se pode contar. Tem um sentido de humor, muito próprio, com graça e que contagia. Eu gostava e muito conversar e alinhar com ele. Tem uma grande companheira, a sua mulher Mimi, que também foi afectada pelos fuzileiros e é uma grande amiga. Já vieram do Canadá a Portugal a dois Encontros do DFE4 ( 2005 e 2008).
Mas agora vamos “ouvir” o Agostinho:
Álvaro veio-me á lembrança quando eu era miúdo de 10 ou 12 anos, como vivíamos a 8 kms da cidade de Angra do Heroísmo não era todos os dias que vinha a Angra, mas um dia fui com o meu pai e estava dois patrulhas atracados ao cais, por isso Angra estava cheia de marujos a passear, era lindo.
Diz-me meu pai, isto é lindo! Se eu fosse novo era para a marinha que eu ia, se pudesse. Eu pensei logo em silêncio: tu não és novo mas eu sou… quando já tinha a idade exigida, estava eu e um amigo meu, conhecido por João Gadelha, a ouvir discos pedidos na casa do povo da freguesia e a ler a revista flama; nessa mesma revista tinha uma grande reportagem com os novos fuzileiros portugueses, isto provavelmente em 1961, da qual comentamos bastante. E davam bastantes elogios aos fuzileiros, mas nem sabia que pertenciam à Marinha e que eu ia ser um deles, quando na rádio disseram que havia um concurso de mancebos para a Marinha. Pensei logo: é agora! No outro dia pedi autorização aos meus pais e lá fui eu, mas convencido que aquilo não dava nada… Não foi fácil arranjar toda a papelada a tempo, mas lá consegui.
Venho para casa descansado, que era o fim da minha aventura, quando perto do fim de Fevereiro de 1961 chamam-me á capitania e dizem-me: tens de te apresentar no Corpo de Marinheiros do Alfeite no dia 8 de Março as 8 da manhã! Vou para a agência de viagens marcar passagem dizem-me eles: tens o Lima que chega a Lisboa no dia 8, ao meio dia, ou tens o Funchal que parte amanhã. Não tive alternativa, marquei passagem e só depois, quando chego a casa, quase noite, digo aos meus pais: Embarco amanhã no Funchal!
Foi um dia de juízo na nossa casa e não só… Já imaginaram, naquele tempo, um pequeno de 17 anos que vai, nem sabemos bem para aonde, ou o que vai fazer, como costumam dizer: foi tudo”feito em cima do joelho”; tudo muito à pressa. Talvez se tivesse tido tempo para pensar e ouvir conselhos não teria chegado a ir… mas valeu! Não só porque me ajudou a ser homem como me marcou positivamente para a vida, apesar de não ter seguido a vida militar foi muito bom, e se pudesse fazer tudo de novo, fazia-o (excepto que esta vez não cometeria a estupidez de quando estava bem é que fui desistir). Apesar da vida me ter sorrido mesmo depois da Marinha ; mas a Marinha, e em especial os amigos e camaradas que lá deixei, nunca os esqueci mesmo depois de ter estado à volta de 15 anos sem qualquer contacto com ninguém da Briosa; mas esquece-los, lá isso ,nunca.

Mas depois, por casualidade, encontrei o Vitorino Santos (16343)e nunca mais perdi o contacto e até comecei a ter mais… mas muito lento, até que, em 2005, do reencontro, depois de 40 anos, tudo reavivou e voltou ao passado.

Será que haverá alguém ou alguma organização que tenha alguma revista Flama dos anos 60 ou 61. Isso seria muito interessante porque adorava ver de novo essa revista que tinha a reportagem dos fuzileiros. Já tentei, na internet ver se havia ainda, alguém ou alguma organização, que tivesse esse revista.

Da minha parte, se conseguir encontrar a tal revista, podes contar comigo. Mas só uma pergunta: ainda pensas recandidatares a algum Curso de Fuzileiros?

Um abraço,

Álvaro
Fotos:
1 e 2 . Agostinho;
3. Sampaio e Agostinho ( 2005)
4. Arnaldo Cruz (Quintã), Agostinho e eu Álvaro (2008)

2 comentários:

  1. Olá Alvaro!
    Quero contar o que se passou com o primeiro encontro em 2005.
    Quando recebemos a circular com o convite e informaçâo eu disse logo ao Agostinho, eu nâo vou, porque nâo conheço ninguem e tu vais estar ocupado com os amigos, eu vou me sentir isolada,abandunada,puro engano, vocês fizeram-me sentir como em casa,e desde entâo sigo isto com muito entusiasmo.
    Alvaro se o Agostinho se recandidatar,ele nâo vai só,como já aceitam mulheres na marinha,eu tambem vou.
    Continuaçâo de boa saude.

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  2. Bravo, Mimi!
    Por essa é que não esperava...
    Não direi mais nada. Os camaradas que estiveram no encontro é que devem ler este teu comentário e esta troca de afectos.
    Realmente, ser mulher de um fuzileiro não é para qualquer mulher!

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