terça-feira, 10 de março de 2009

E depois do meu regresso de Angola de 1965

Agostinho Maduro e a refeição inesquecível oferecida aos seus conterrâneos.

Obrigado Domingos Pedro, obrigado Guilhermino!

É na verdade uma história bonita, verdadeira e com um final interessante!


Aqui fica a narração do Agostinho:

Ainda antes do meu regresso, há uma história que se passou comigo e que veio a ter consequências no meu futuro.
Estava eu conversando com alguns camaradas em Santo António do Zaire - vésperas da visita do Presidente da República - quando chegou um colega que me disse que havia um militar na guarda a perguntar se havia alguém dos Açores! Deve ser alguém que te conhece?... Eu lá fui receber o rapaz e ele conhecia a minha família. Por incrível que pareça, eu não conhecia a dele, apesar de vivermos a uns 3 ou 4 km de distância. Ofereci-me para esperar e convidei-o para vir almoçar connosco, o que ele recusou por falta de tempo. Tinha de partir logo, mas disse-me que se pudesse voltaria na altura da visita do Presidente Américo Tomás, o que não aconteceu. Mas certo dia, três dos seus companheiros, também açoreanos, aparecem-me lá e dizem-me que ele, Onélio de Sousa, tinha dito que me visitassem e me dessem um abraço. Agradeci e pergunto: vocês já almoçaram? - Disseram-me que não e que estavam cheios de fome e o dinheiro não é muito… Digo eu, vamos ver o que se pode fazer… Eu sabia que os meus camaradas não me iam deixar mal. Mas disse: olhem acabamos de almoçar à pouco; normalmente sobra comida, vamos ver nas traseiras da cozinha, que havia, como era costume, o chamado rancho da porca onde comiam os cozinheiros, o cabo do rancho e os empregados da cozinha. O cabo de rancho era o Domingos Pedro (13155) a quem lhe disse o que havia passado e me leva à cozinha e responde: serve-te… Tinha bacalhau cozido batatas, hortaliça e ovos cozidos que quase dava para toda a malta repetir a dose…Tirei coisa que chegava para 10 ou 12 pessoas; fui à dispensa, que estava a cargo o Guilhermino (12273), me encheu um prato de azeite e vinagre e um caneco de vinho. Foi bonito ver aquelas almas comerem e até alguns não puderam conter tanta emoção. Lembro-me bem de um deles dizer que na sua vida nunca tinha tido uma refeição de lhe saber tão bem… Eu, todo orgulhoso, respondi: Nós, os fuzileiros, somos assim!
Ainda hoje me apetece dizer obrigado ao Domingos Pedro e ao Guilhermino.

Esse tal primeiro contacto é hoje meu cunhado e esta a viver nos Estados Unidos.

Um dos outros três, de nome Manuel Maria, que vivia a uns 5 ou 6 km da minha casa, quando soube que eu estava lá de visita, veio ter comigo e disse: isto é uma ordem! Tens de ir almoçar a minha casa. Lá se arranjou a coisa para cumprir a ordem. O mais interessante é que, como a casa dele como ficava a uns 5 km, fui de autocarro; mas no regresso só havia o transporte mais comum daquele tempo: as pernas e andar a pé.

Vinha eu a caminho de casa quando uma moto parou! Era um amigo meu. Ofereceu-me boleia, o que aceitei logo de seguida… Quando íamos passando na freguesia das Cinco Ribeiras, estavam em festa do Espírito Santo, paramos e foi a primeira vez que vi a que viria a ser a minha companheira de 40 anos, fazemos no dia 28 de Setembro 2009.


Depois contarei mais alguma coisa da minha vida depois de sair da Marinha.
Obs.: Peço desculpa ao Agostinho e a Mimi mas não consegui colocar as fotos das 8 freguesias dos Açores: das Cinco Ribeiras (Mimi), e as da freguesia de S. Bartolomeu (Agostinho). Em contra-partida, ficou a fotografia de um casal exemplar e com um bonito percurso de vida!

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