quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Memorando DFE4 - Angola 1963-65

Capítulo VI

Pascoal Rodrigues e os Fuzileiros
e vice-versa


Falar sobre o Comandante Pascoal Rodrigues (CPR) é de facto uma grande responsabilidade mas nada dizer é uma grave omissão. Para os camaradas da minha geração OS FUZILEIROS estão indissociavelmente ligados à figura e ao carisma pessoal de Pascoal Rodrigues. Seria inimaginável a existência dos fuzileiros sem ele. A Escola de Fuzileiros nasceu com ele, fez doutrina com ele, ganhou prestígio com ele. Dele se recebeu também a preparação militar e a formação moral e ético-profissional, merecedoras por isso da admiração e o respeito de todos. Como referência, citam-se aqui alguns nomes de oficiais que foram seus instruendos: Heitor Patrício, Metzner, Mendes Barata, Brito e Abreu, Oliveira Rego, Faria de Carvalho, Martins Viegas, Paiva Boléo, Vasconcelos Caeiro... Todos estes oficiais vieram mais tarde a comandar Companhias e Destacamentos de Fuzileiros Especiais em África.
Durante os treze anos de Guerra Colonial houve camaradas que fizeram cinco comissões. Passaram por todos os teatros de guerra e houve até camaradas que fizeram duas comissões na Guiné! Alguns perderam a vida e outros sobreviveram com os seus estados de saúde física e mental diminuídos ou abalados. Os mais antigos, e com maior número de comissões, foram formados fuzileiros por Pascoal Rodrigues e sua equipa. Apesar disso, até hoje, não houve o devido reconhecimento oficial. Os fuzileiros nunca o pediram, muito menos reivindicaram, porque sempre se nortearam por valores superiores: o cumprimento da sua missão ao serviço da Pátria e da Nação. É ao Estado e aos seus representantes – Governo, Presidência da República e Assembleia – a quem compete tomar a iniciativa.
A (re) criação dos fuzileiros deve-se, como sabemos, aos ataques dos guerrilheiros dos movimentos de libertação às antigas Colónias ou Províncias do Ultramar Português.
Do ponto de vista militar e da Marinha havia que acautelar a defesa desses territórios e reforçar as suas Bases Navais e Unidades com os meios materiais e humanos (efectivos) preparados para actuar em terra e no mar. É então que o comodoro e Subchefe do Estado-Maior da Armada, Reboredo e Silva, propõe junto do Chefe do Estado-Maior da Armada (1959/60), a organização de uma pequena força de marinheiros e a constituição de pelotão de atiradores destinados a operação de comandos e desembarques, e a criação de um Centro de Instrução.

A instrução constituiria uma especialização com a designação de fuzileiros, cujos homens deveriam ser dextros, com iniciativa e devidamente instruídos. É assim que, por proposta sua (n.º 104 de Maio/1959) foi sugerido e aceite que um tenente e três praças frequentassem um curso de especialização em Inglaterra: Centre Royal Marines.

Os seleccionados foram: 2.º tenente Pascoal Rodrigues e os marinheiros Ludgero Santos Silva (Piçarra), Mário Claudino (o primeiro de todos num curso frequentado por estrangeiros, incluindo os ingleses...) e João Cândido Santinhos.

O curso teve início a 22 de Agosto e terminou a 30 de Setembro de 1960. Doravante, havia que materializar a formação dessa força: estruturá-la e dar-lhe uma alma própria. É aqui que a acção de Pascoal Rodrigues, juntamente com seus companheiros de curso, faz história. É também neste momento que nasce a Instituição dos Fuzileiros, com o seu ulterior desenvolvimento, prestígio e emancipação com a criação do Corpo de Fuzileiros.
Recordo que até ao 6º Curso de Fuzileiros, todos os fuzileiros foram preparados pelo tenente Pascoal Rodrigues e sua equipa. Todos estes homens viram-no «apertar as sandálias»[1] e aprenderam com ele.
A missão a cumprir era a constituição, com urgência, de uma força operacional e rápida, com poucos efectivos, que actuasse na guerra de África: Essa força seria os Fuzileiros e um dos principais obreiros o oficial Pascoal Rodrigues.

[1] Trata-se de um conto indiano, publicado por Ramiro Calle no livro “ Os melhores Contos Espirituais do Oriente” cuja história é a seguinte: «Dois homens encontravam-se de visita à casa de um mestre, e um perguntou ao outro:
- Vieste, como eu, para ouvir os ensinamentos?
E o outro respondeu:
- Não, para mim é suficiente ver como aperta as sandálias».
O autor tira depois as seguintes conclusões. Não é através das palavras que se conhece um mestre mas, de um modo especial, através das suas acções, mesmo que estas sejam rotineiras e simples. Porque um mestre realizado imprime algo especial à sua maneira de ser e de proceder (...).

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