sábado, 14 de fevereiro de 2009

Memorando DFE4 - Angola 1963-65

Capítulo VI

Pascoal Rodrigues e os Fuzileiros vice-versa



A personalidade, moral e disciplina do Comandante.

Pela sua importância e sobretudo para aqueles que não conhecerem o Comandante Pascoal Rodrigues, vale a pena esboçar aqui algumas ideias sobre o seu modo de pensar e agir. São aspectos reveladores do seu carácter, personalidade, disciplina e moral. O assunto veio a propósito de uma troca de correspondência entre nós. Em determinado passo diz o Comandante: discordo quando afirma que se sente indisciplinado. Nunca o foi quando estivemos juntos nos fuzileiros e não acredito que não tenha continuado... pois isso é uma coisa que fica entranhada em nós para sempre. E tinha razão. Prosseguindo:

Fala em dever, obediência e disciplina. Na realidade são todas questões relacionadas. O sentimento do dever nos leva a obedecer (pelos menos enquanto sentimos que está de acordo com a nossa própria moral) e para bem obedecer temos de o fazer com disciplina (a disciplina aceite, não a imposta) pois, principalmente, para trabalhar em grupo, ela se traduz em eficiência uma vez que todos os esforços são dirigidos na mesma direção e com a mesma intensidade. Era o nosso caso. Pelo menos da minha parte sempre procurei que a disciplina por mim exigida fosse, antes de mais aceite por todos. E para chegar a isso às vezes usamos hábitos, maneirismos e principalmente, ações pelo exemplo, dado que para mim este sempre foi dogma indiscutível. Na realidade, sempre tive o cuidado de nunca mandar os outros fazer coisas que eu próprio não fosse capaz de fazer. Por aqui começa o ensino da disciplina na minha opinião.
É interessantíssima a admissão deste postulado sob dois aspectos. O da sua aplicação prática - já nesse tempo - e o da sua actualidade. Todos se lembram dos exercícios e da sua dureza. Não havia benesses para ninguém! – Todos alinhavam nas provas independentemente do seu posto ou graduação e o Comandante estava lá sempre... A disciplina e obediência era o corolário de toda a nossa actividade e participação. Nesta perspectiva ninguém ficava de fora mas também ninguém se recusava. Não havia argumentos. Logo, a obediência era consentida e todos os esforços ganhavam corpo e direccionavam-se no mesmo sentido. O exemplo era a prova insofismável da razão do argumento:
- Eu também faço!

É também a primeira vez na história da Marinha de Guerra Portuguesa que é criado um Corpo de Fuzileiros, estruturalmente consolidado e genuinamente português. Costuma-se apontar duas datas históricas para justificar a pré-existência dos fuzileiros: O ano de 1621, período do domínio filipino em Portugal, e o ano de 1808 correspondente à invasão napoleónica de Portugal e fuga da Corte Real para o Brasil. Fuga essa que foi acompanhada pela Infantaria da Marinha, fuzileiros, que viria depois dar origem a criação dos Fuzileiros Navais Brasileiros. À primeira vista, e formalmente, admitimos esses factos. Já a sua interpretação é algo duvidosa. Tanto a data de 1621 como a data de 1808 corresponderam a períodos da História em que a soberania portuguesa esteve comprometida senão mesmo perdida. O Terço da Marinha Portuguesa esteve ao serviço soberania espanhola durante sessenta anos e desta fazia parte o território português. A Infantaria que seguiu a Corte para o Brasil esteve ao serviço dos seus representantes mas não lutou ao lado dos portugueses contra as tropas invasoras napoleónicas. Dito de outra maneira: Em nenhum destes casos, se pode dizer, com verdade, que tais forças serviram Portugal. Mais, logo que a maré negra passou, essas forças extinguiram-se.
De facto, a única força que permanece até hoje, e travou uma luta de treze anos nas ex-Colónias Portuguesas de África, em defesa da sua soberania, foi a actual Força de Fuzileiros, concebida pelo Almirante Reboredo e Silva em 1960. Uma força com especialização, designada de Fuzileiros (que deveria ser...), formada por homens dextros, com iniciativa e devidamente instruídos. Essa Força de homens dextros e devidamente instruídos são os Fuzileiros, corporizados originariamente pelo oficial Pascoal Rodrigues. É um nome profundamente ligado à sua história, que se confunde com os fuzileiros, por lhe estar intrinsecamente associado. Daí o título deste capítulo: Pascoal Rodrigues e os Fuzileiros e vice-versa.






CMDTE Pascoal Rodrigues
Foto de 2005

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