Memorando DFE4 - Angola 1963-65

Chegada a Angola

A chegada a Angola, de um dia para o outro, parecia um sonho. Ainda na véspera tínhamos saído de Lisboa, com um clima de Inverno e despertamos em Luanda – África - com um sol radiante, em frente de uma Baía deslumbrante e de praias fantásticas.

Depois, cheiros e sabores tipicamente africanos, e as cores... ficavam bem aos homens que usavam vestimenta branca assim como as capulanas de tonalidades garridas às mulheres. Também nós usávamos o uniforme branco... mas o céu, naturalmente azul e limpo, queimava com uma pontinha de humidade a população branca que circulava calmamente pelas ruas... as noites, suaves, infindavelmente estreladas; escutavam-se à distância o som dos batuques indígenas numa rítmica dança até ao romper da madrugada...Enfim, indescritíveis as sensações vividas.Chegámos a Luanda ainda na época das chuvas, que vai de Novembro a Abril, e que se caracteriza pela elevada pluviosidade e altas temperaturas.
Ficámos aquartelados na Ilha de Luanda, Base Naval, com boas instalações: casernas arejadas e limpas, amplo refeitório e um bar apetecível. Para não nos habituarmos mal, ao fim de pouco mais de uma semana zarpámos para Santo António do Zaire (Sazaire).
Os últimos camaradas do DFE4 a chegar a Luanda vieram no voo de 26 de Fevereiro de 1963, e logo a 8 de Março 1963 deixamos a Base Naval. Nesses escassos dias que permanecemos na Base fez-se as respectivas escalas de serviço e o Destacamento reuniu várias vezes. Na primeira reunião fomos alertados pelo Comandante Pascal Rodrigues da razão da nossa presença lá e do nosso papel no teatro de guerra, apelando para a unidade entre os camaradas. Quanto as saídas da Base, disse mais ou menos isto: saiam em grupos, não se metam em apuros e desenrasquem-se. Se vier ao meu conhecimento desacatos provocados lá fora, os seus causadores serão castigados com alguns dias de detenção; mas se eu souber que alguém do grupo não prestou auxílio e foi-se embora leva castigo superior. Façam sempre a continência a todos os superiores de qualquer ramo das forças armadas. Aqui, um camarada questionou: mas senhor Comandante, temos sempre feito a continência e já aconteceu que ao fazê-la (a um aspirante ou alferes), se riram de nós. O que fazemos num caso destes? - Resposta imediata do Comandante Pascoal Rodrigues (CPR): vão-lhes para a cara... O Comandante não admitia faltas de respeito mesmo que elas partissem de hierarquias militares superiores, ou melhor, sobretudo delas.

Creio que ele se preocupava bastante com o exemplo e a disciplina, e estes deveriam vir de cima. O Destacamento nº 4 era uma força comandada por ele e os seus efectivos deviam comportar-se à altura: servir de exemplo a todos os outros. Quem usasse uma farda tinha de saber usá-la e respeitar.

Quando vestíamos o uniforme, e nas poucas vezes que saíamos do aquartelamento, tínhamos de estar impecavelmente fardados. No foi por acaso que em Santo António do Zaire o 4.º destacamento foi apelidado do «destacamento das botas engraxadas...».

Na curta estadia que permanecemos em Luanda ainda deu para sair da Base, passear pela cidade, beber uns copos e apanhar uns banhos de praia. Serviu ainda para estabelecermos uma aliança natural com uma força da elite: Os pára-quedistas. Estes camaradas alinhavam connosco e nós com eles. Visitavam as nossas Bases e nós a deles. Saíamos juntos para as farras, etc. Inicialmente, as coisas não foram fáceis e ouve mesmo pancadaria...

Quando o DFE1 chegou a Luanda já lá estavam os pára-quedistas que foram bem recebidos pela população e não acharam piada nenhuma a concorrência dos fuzileiros. Mediram forças com os Fusos e verificaram que não levavam a melhor. A partir de então tornaram-se nossos aliados e dessa aliança surgiu o nome de PARAFUSOS. Pára-quedistas mais Fuzileiros, cuja aglutinação abreviadas dos dois nomes (Pára +Fusos).

Imagens:

Aeroporto de Luanda

Ilha de Luanda

Baía de Luanda

Base Naval de Luanda

Rádio Naval de Luanda

Desfile do DFE4 ( não incluído no Livro)

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